A fresquidão dos bosques frondosos, O murmúrio das águas a escorrer nas encostas, O canto das fontes a embalar os amantes, E o sussurro das folhas ao ritmo da aragem mansa.
O trinar dos pássaros, Os aromas da terra E a paleta das cores,
As neblinas perpétuas a sugerirem mistérios E lendas de fadas e faunos correndo nos bosques.
Os penhascos gigantes a sustentar o castelo, O palácio nascido do sonho de um rei, E o convento talhado na rocha a falar-nos de Fé.
O romantismo, o romance, os passeios de mãos dadas, E por fim, o beijo sonhado, num cenário de idílio.
Neste cantinho escondido Do parque fresco e frondoso Que há muito tempo acolheu, E escondeu o nosso amor Dos olhares menos discretos, Parece que o tempo parou.
O mesmo banco de pedra Salpicado pelo musgo, À sombra do castanheiro. O canto da água da fonte Continua a ser o mesmo Que embalou os nossos beijos.
E as folhas do arvoredo Afagadas pela brisa Continuam sussurrando Os mesmos sons embaladores.
As cameleiras são ainda Aquelas que há meio século, Floridas, Enfeitaram o romance Que nós dois aqui escrevemos.
Os fetos e as avencas, O cantar da passarada O aroma das flores, São os mesmos doutros tempos.
Nada mudou.
Nada mudou? Mudou tudo!
Hoje estou aqui sentado, Sozinho, velho, enrugado. Sem ter aqui a meu lado O teu corpo escultural, A tua cara bonita, O sorriso jovial Com que acolhias, feliz, As minhas juras de amor.
Já não tenho a oferecer-se-me A tua boca sedenta. Não sinto já os teus lábios Doces, carnudos, sedosos A colarem-se contra os meus, Nem os teus seios generosos, Rijos, firmes e empinados, Parecendo ser desenhados Perfeitamente à medida Da palma da minha mão.
Neste cantinho pacato Do encanto doutros tempos. Só resta agora a saudade.
Se vim hoje até aqui, Sentar-me no nosso banco, Neste recanto do parque À sombra do castanheiro, Foi apenas para lembrar
O passado já longínquo. Não me interessa se ouço passos, Se há alguém a aproximar-se, Se há mirones a espreitar.
Estou agora aqui sozinho, Pensativo e melancólico Apenas para recordar Os tempos felizes de outrora.
Nada mudou por aqui, Mas tudo mudou em mim.
Onde quer que tu te encontres Será que ainda recordas Este banquinho de pedra À sombra do castanheiro, Neste cantinho escondido Do parque fresco e frondoso Que acolheu o nosso amor Já lá vão cinquenta anos?
Talvez tudo o que vivemos Tenha já sido apagado Do livro das tuas memórias Pela voragem do tempo.
Talvez!
Mas eu hoje aqui sentado Recordo com muita saudade Cada beijo que trocámos, E cada jura que fizemos Neste banquinho de pedra.
Obrigado velho amigo Por teres guardado segredo E não teres dito a ninguém Tudo aquilo que aqui viste.
Castanheiro, muito obrigado Por manteres ainda guardado No teu tronco centenário Os corações que gravámos Por cima dos nossos nomes.
Enquanto eu envelheci E vivo olhando o passado, Tu, velho banco, Continuas a acolher,
E a esconder neste cantinho Todos os dias, novos amantes, Novos beijos, Novas juras, Novas promessas de amor P´ra durar a vida inteira. Daqui a cinquenta anos Muitos daqueles que agora Se acolhem aqui nos teus braços, Voltarão tristes e sós Apenas para recordar Tudo aquilo que viveram Neste recanto de idílio.
E tu, Como sempre acolhedor, Cá estarás para os receber E alimentares-lhes a saudade Como fazes hoje comigo.
Obrigado companheiro. Voltarei a visitar-te Para juntos recordarmos Os tempos felizes de outrora. E agora, É já tempo de ir embora, Que há ali um parzinho À espera que fiques vago.
Trata-os bem meu bom amigo, Como fizeste comigo Há muitos anos atrás.
De Pio XII ao Papa Francisco
são já sete os Papas que conheci ao longo das sete décadas que levo de vida.
Sete Papas, sete pontificados, sete estilos diferentes, sete personalidades distintas.
Homens com origens, percursos e experiências de vida diferentes que os
conduziram a um destino comum, a cadeira de S. Pedro. Não resisti à tentação de
tentar estabelecer uma comparação entre todos estes Papas e os seus
pontificados. Não é um exercício fácil de fazer pelo menos para quem, como eu, não
possui os conhecimentos suficientes e necessários para o conseguir. O
mediatismo que os rodeou não foi igual para todos eles, o mundo tem mudado de
forma alucinante nestas últimas décadas e os problemas com que eles se viram
confrontados tiveram certamente contornos muito diferentes. Resultado? Desisti
de fazer comparações que não terão qualquer cabimento. A verdade é que todos
eles, com a ajuda do Espírito Santo, cumpriram a missão que lhes foi confiada
com total dedicação, competência, humildade e sentido de serviço a Deus e ao
mundo e fizeram-no com uma Fé inabalável procurando com o seu exemplo dizer aos
crentes, e porque não dizê-lo, também aos não crentes, que a santidade não é
exclusivo de alguns eleitos por Deus mas está ao alcance de todos nós. Assim
nós o queiramos. É fácil vivermos em santidade? Não, não é, mas também não é
impossível. Os exemplos que a Igreja nos oferece são muitos e elucidativos.
Estive tentado a escrever um
pouco sobre a marca que cada um destes sucessores de S. Pedro deixaram na minha
vida mas o espaço de que disponho é limitado e insuficiente para expressar
todas as emoções que eles me transmitiram. Optei então por destacar apenas
quatro deles, aqueles que mais mexeram comigo e certamente com a maioria dos
cristãos, S. João XXIII, João Paulo I, S. João Paulo II e o actual Papa
Francisco. Gostaria numa próxima oportunidade de falar um pouco sobre Pio XII,
Paulo VI e Bento XVI pela importância que também eles tiveram na vida da nossa
Igreja, mas por agora prefiro destacar a imagem de bondade que João XXIII nos
transmitia e a decisão firme que tomou de aproximar a Igreja dos fiéis ao
convocar o Concílio Vaticano II. João Paulo I no seu curto pontificado de um mês
conquistou o mundo com a sua humildade e o seu sorriso, o sorriso de Deus como
consta do título de um filme italiano realizado sobre a sua vida. Sucedeu-lhe João
Paulo II que trouxe à Igreja a força da personalidade de um homem temperado pelo
flagelo da guerra, pela crueldade nazi e pela luta contra a ditadura comunista.
Se João XXIII aproximou os fiéis à Igreja, João Paulo II levou a Igreja até aos
fiéis quando se deslocou aos quatro cantos do mundo com a missão de levar a
mensagem de Cristo a todos os lugares por mais recônditos que fossem. Cativou a
juventude e foi o principal responsável pela queda do comunismo na Europa, pelo
derrube do muro de Berlim e o fim da União Soviética. Soube usar como nenhum
outro a comunicação social para difundir a palavra missionária. O seu poder e a
sua força inabalável valeram-lhe um atentado congeminado pelos dirigentes
comunistas do Leste europeu, atentado esse que num dia 13 de Maio lhe custaria
a vida se não fosse a intervenção miraculosa de Nossa Senhora que ele tanto
amava e a quem entregou a sua vida ao ponto de adoptar como lema do seu
pontificado, “Sou todo Teu, Maria”. Tinha razão Karol Wojtyla quando pediu aos
fiéis de todo o mundo para não terem medo. Houve porém alguém que começou a ter
medo nesse preciso momento, os algozes comunistas que oprimiam meia Europa. E o
futuro demonstrou que tinham toda a razão para o ter.
Actualmente a cadeira
Petrina está ocupada por um homem que veio de longe, do fim do mundo como ele
disse quando acabado de ser eleito pelo conclave se dirigiu aos fiéis que
enchiam a Praça de S. Pedro. É cedo para fazer um balanço do pontificado deste
homem simples, humilde que tem como prioridade lutar pelos desfavorecidos da
vida e fazer regressar a Igreja à sua pureza e simplicidade original. Francisco
quer uma Igreja menos pomposa, mais modesta na forma, mas mais ambiciosa nos
objectivos. Francisco quer uma Igreja com uma maior preocupação social mais de
acordo com a imagem de Jesus. Terá que ultrapassar muitos obstáculos, terá que
superar o conservadorismo de muitos para implementar todas as reformas que ele
pensa serem necessárias e urgentes para renovar a Igreja de Cristo
aproximando-a mais dos ensinamentos do Mestre. Será uma tarefa hercúlea mas
confiamos que Deus não lhe faltará com a sua ajuda para levar a sua missão a
bom termo.
Termino com uma conclusão
muito pessoal. S. João XXIII mudou a Igreja, S. João Paulo II mudou o mundo e o
Papa Francisco irá certamente mudar o homem. De permeio João Paulo I
encantou-nos a todos com o seu sorriso e não teve tempo para mais.
Guilherme Duarte.
(Artigo publicado no número de Junho de 2014 do jornal Cruz Alta)
É assim que começa um poema
que decerto nos faz regressar, com uma pontinha de saudade, aos longínquos
tempos da nossa meninice. Este foi, para mim e para todas as pessoas da minha
geração o primeiro contacto que tivemos com a poesia. É com este poema
carregado de ternura que João de Deus termina a inesquecível Cartilha Maternal
através da qual nos ensinou as primeiras letras, a juntá-las e a conseguir soletrá-las.
Em suma, foi nessa cartilha, diria que mágica, que aprendemos a ler. João de
Deus, no final da cartilha e sabendo-nos já aptos para a leitura, ainda que
algo incipiente naquela idade, decidiu encantar-nos com um poema de uma ternura,
uma simplicidade e uma ingenuidade tão grandes que o tornam verdadeiramente cativante;
ao ponto de ser impossível esquecê-lo ao longo de toda a nossa vida. O ”Hino
de Amor”, assim se intitula o poema, e a maravilhosa “Balada da Neve” de
Augusto Gil que o livro da 2ª classe nos oferece, despertaram em muitos de nós,
os mais velhos, o gosto pela poesia. Não é porém de poesia que pretendo falar
este mês. Talvez numa próxima ocasião.
Esta referência ao poema de João de Deus veio-me à lembrança a propósito
do mês de Maio, para mim o mais bonito mês do ano. Maio, o mês de Maria, o mês
da mãe e também o mês das flores, dos aromas inebriantes e das melodias
irreverentes do alegre trinar da passarada.
Terá sido por acaso que
Nossa Senhora escolheu o mês de Maio para aparecer aos pastorinhos na Cova da
Iria, num descampado, nessa altura certamente coberto por um manto
multicolorido de flores campestres a rodear as azinheiras? Nossa Senhora fez a
sua primeira aparição no mês de Maio e sinto que não fez por acaso. È
enternecedora e muito bonita a associação da nossa Mãe do Céu à nossa mãe
terrena num cenário florido, policromo e odoroso. Será possível imaginar algo
mais encantador? Para mim, não. Já nos tempos de seminarista no mês de Maio
enfeitava a minha mesa de estudo com uma pequena imagem de Nossa Senhora, uma
fotografia da minha mãe, que nasceu no mês de Maio, e um pequeno ramo de flores
campestres que colhia durante os passeios semanais das quintas-feiras. Já nessa
altura, no início da minha adolescência Maio era, e é ainda hoje, um mês que me
encanta
.
Mas que terá tudo isto a ver
com o poema de João de Deus que referi no início desta conversa? Vou tentar
explicar. Estamos no mês da Maria, o mês de Nossa Senhora, a Mãe extremosa de
Jesus e esposa dedicada de S. José. Celebrando a Virgem temos que recordar
também Jesus, não só O Jesus, Filho de Deus durante a sua vida pública mas
também O Jesus que se fez homem, que foi criança e que como qualquer outra criança
cresceu no seio de uma família que o amava, que o acarinhava, que brincava e
passeava com Ele. Não podemos celebrar Maria sem celebrar também a Sagrada
Família. João de Deus descreve no seu poema Jesus ainda menino a passear pelos
campos na companhia de S. José. O poeta dá-nos o mote, cabe-nos a nós completar
o quadro. Quanto a mim vejo Jesus a brincar e a saltar pelo campo sob o olhar
atento e carinhoso de S. José, num intervalo do seu trabalho na carpintaria, enquanto
em casa Nossa Senhora prepara a refeição para a família. Bondoso e sensível Jesus
defende o rouxinol do ataque da serpente traiçoeira e a avezinha, grata pela ajuda
e protecção do Menino não mais deixou de agradecer e louvar o seu protector através
da melodia do seu canto maravilhoso.
Pouco mais de uma semana
após termos meditado na Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus e contemplado a
dor de Nossa Senhora ao pés da cruz a receber nos seus braços o corpo inerte do
seu amado Filho, vamos agora venerá-la como a Mãe amantíssima de um Deus feito
criança, uma criança alegre, obediente e generosa que passeia pelos campos de
Nazaré pela mão de São José, enquanto Maria anda atarefada na lida da casa.
Nossa Senhora há-de apreciar de certeza que a celebremos juntamente com o seu
Divino Filho e com S. José o seu santo esposo. Maio é o mês de Maria, o mês da
mãe e das flores mas é também o mês da Família Sagrada. Louvemo-La.
Guilherme Duarte
(Artigo publicado no número de Maio de 2014 no jornal Cruz Alta)
Os portugueses têm vindo a
ser quase diariamente bombardeados com notícias que não prenunciam nada de bom
para o futuro do nosso país nem do nosso povo. Os portugueses estão preocupados
e temem pelo seu futuro, pelo futuro dos seus filhos e dos seus netos. Adensam-se
nuvens muito negras sobre o povo português que tem vindo a ser recentemente esbulhado
de muitos dos direitos adquiridos ao longo de muitos anos de trabalho, direitos
esses considerados sagrados desde há muito por governos, sindicatos e patrões. Num ápice
tudo agora foi deitado por terra. Actualmente governa-se em Portugal contra o
povo e não em prol do povo como é obrigação de qualquer governo eleito democraticamente.
Os portugueses da classe média e das classes mais desfavorecidas têm sido o
alvo preferencial das medidas de austeridade adoptadas sem um mínimo de
sensibilidade social e já atingiram o limite das suas capacidades para suportar
mais ataques à sua bolsa e os sacrifícios que lhes continuam a ser exigidos. O anunciado
aumento de impostos e cortes nos salários e nas pensões que o governo se
prepara para impôr no próximo ano aos portugueses vai lançar milhares de
famílias na pobreza e muitas mesmo na mais dolorosa e humilhante das misérias. Não
tenhamos medo de usar palavras duras quando elas traduzem fielmente a dureza
das medidas que se aproximam.
Perante as notícias que
correm, os portugueses desesperam e interrogam-se inquietos sobre o lhes reservará
o futuro. Não será muito difícil prever o que aí vem já em 2013. Mais
desemprego, aumento brutal, selvático mesmo, dos impostos, cortes
significativos nos salários, nas pensões, nos subsídios e no apoio social do
Estado, redução das verbas para a saúde e para a educação entre tantas outras
“malfeitorias” que se adivinham. Mais uns milhares de concidadãos nossos
ver-se-ão obrigados a entregar as suas casas aos bancos por não conseguirem
pagar os empréstimos. A solução para muitos deles poderá ser a rua, um papelão
a servir de enxerga e um monte de páginas de jornais velhos como cobertores,
estendidos debaixo de uma ponte qualquer, num banco de jardim ou num vão de
escada de um prédio abandonado e em ruínas. Haverá, que ninguém duvide, uma procura
cada vez maior dos refeitórios sociais. É o regresso à “sopa do Sidónio” muito
popular nos primórdios da primeira república. É um retrocesso de cerca de 100
anos. Bem podem estar orgulhosos os “pseudo-democratas” que lançaram este país
na penúria e que agora contemplam a sua obra à distância, bem instalados na
vida, seja em França, em Angola ou em qualquer outro país desde que seja bem
longe de Portugal. Apesar do mal que nos fizeram e porque não sou vingativo, deixo-lhes
um conselho, afastem-se da Islândia porque eles por lá têm o mau hábito de
julgar e punir os responsáveis por quem delapida as finanças e a economia do
país. Um mau exemplo, decerto.
É este futuro negro que espera
os portugueses se entretanto o governo não arrepiar caminho e fazer aquilo
que é a sua obrigação, defender o povo que o elegeu, principalmente os cidadãos
mais carenciados. É imperioso bater o pé à “Troika” e dar prioridade absoluta ás questões sociais e á recuperação
da economia. O Estado Social tem que ser defendido a todo o custo e a Igreja já
se pronunciou claramente nesse sentido. A dignidade das pessoas, a defesa
intransigente dos direitos e do bem-estar das crianças, dos idosos e dos
doentes não são negociáveis e têm que ser salvaguardadas sem reservas. Perguntamo-nos
como foi possível que o nosso país tenha chegado a esta situação desesperada em
que se encontra. A resposta é fácil e óbvia. Chegámos a este ponto por culpa de
políticos incompetentes e irresponsáveis que delapidaram os dinheiros públicos
em mordomias escandalosas, em gastos sumptuosos, em compadrios e favorecimento
de amigos e correlegionários, em reformas chorudas obtidas após uma mera dúzia
de anos de permanência em cargos políticos. Há mais de uma década nas mãos de
uma geração de políticos impreparados que optaram por se filiarem nas juventudes
partidárias onde aprenderam a arte da demagogia e da mentira e as manhas da
politiquice em vez de apostarem no enriquecimento intelectual, na aquisição de
conhecimentos sólidos baseados no saber científico que apenas se adquire nas
universidades a sério, o país tinha inevitavelmente de se ressentir da má
qualidade dos seus dirigentes políticos que parecem mais interessados no
usufruto dos benefícios pessoais que a política lhes proporciona do que em
servir o povo que lhes paga generosos ordenados, subsídios, cartões de crédito,
automóveis topo de gama, viagens à volta do mundo e toda uma infinidade de privilégios
e mordomias. Para eles não há cortes nos salários nem nos subsídios. Enquanto
lançam para a pobreza e para a miséria alguns milhões de portugueses, estes
políticos desumanos e insensíveis não abdicam de nenhum dos seus privilégios, O
sofrimento do povo parece não os incomodar nem lhes tirar o sono. Solidariedade
é uma palavra que desconhecem e afirmam com arrogância que lidam bem com a
impopularidade. Curiosamente, enquanto estes políticos de segunda categoria impõem
despoticamente ao povo sacrifícios que não aceitam para eles, dobram-se subservientes perante os poderosos que vindo do estrangeiro a pretexto de uma alegada ajuda apenas
nos estão a destruir como país e como povo. Em contraponto com o autoritarismo
que revelam dentro de portas perante um povo desmotivado e enfraquecido
vergam-se vergonhosamente servis perante os senhores do mundo aceitando sem
reagir todo o tipo de imposições gravosas para o povo que juraram defender..
.
Nuvens bem negras se adensam
sobre o futuro de Portugal, o futuro que a geração dos políticos papagaios vão deixar
como herança às gerações vindouras. Os portugueses têm todas as razões para se
sentirem inquietos, deprimidos e revoltados. Como seria possível que não o estivessem
quando engrossa diária e dramaticamente a legião dos desempregados? Como queriam que se sentissem os portugueses
que trabalharam uma vida inteira, sempre descontaram até ao último tostão tudo
aquilo que o Estado lhes exigiu e que agora se vêm espoliados de parte significativa
das suas pensões ganhas honestamente com o suor do seu rosto ao longo de uma
vida de trabalho? Como querem que se sintam os portugueses quando diariamente
ouvem os governantes e os seus fiéis arautos vir lamentar publica e despudoradamente
que a esperança de vida em Portugal está a aumentar? Quererão ser incensados
pelo povo aqueles que pensam que o ser humano é útil apenas enquanto tem uma
vida activa, trabalha e desconta para os cofres do Estado mas que é descartável
logo que se aposenta e passa a receber a reforma a que tem direito para a qual ele contribuiu
durante muitas décadas de trabalho?
George Orwel dá-nos conta no
seu livro “O Triunfo dos Porcos” da existência de uma quinta onde há muito viviam
em perfeita harmonia várias espécies de animais.
Um dia os porcos decidem tomar o poder nas suas mãos, mudam as regras a seu
belo prazer, e determinam que a partir desse momento todos os animais da quinta
são iguais mas que há uns que serão mais iguais do que outros. São os porcos,
evidentemente. Portugal- parece-se cada vez mais com a quinta de que George
Orwel nos fala. À luz da Constituição todos os portugueses são iguais nos seus
direitos e nos seus deveres, mas a verdade é que há alguns que são mais iguais
que outros. Basta ver quem são os que veem os seus rendimentos reduzidos por
medidas infames e aqueles a quem essas medidas não se aplica. “O Triunfo dos
Porcos”, mantém-se infelizmente bem actual. nos dias de hoje em Portugal..
Crise é a palavra que
actualmente mais ouvimos pronunciar e que deprime e atormenta os nossos dias e
a nossa estabilidade emocional. Portugal estará muito provavelmente a viver um
dos momentos mais difíceis da sua história. Defendem-se os nossos políticos
alegando que a crise que se vive no nosso país é um reflexo da crise
generalizada que invade o mundo. Sê-lo-á sim, mas é também em grande parte
culpa da incompetência das políticas irresponsáveis dos governos que temos
tido, da corrupção que se faz sentir a todos os níveis, e do compadrio,
mordomias e privilégios escandalosos de que os nossos políticos não abdicam.
Após 1974 Portugal esteve já por três vezes à beira da bancarrota e pela
terceira vez em 40 anos o FMI teve de intervir no nosso país para pôr ordem nas
contas públicas sempre através de gravosas medidas de austeridade que
penalizaram sempre as classes mais desfavorecidas da população portuguesa mas
nunca essa austeridade e as medidas adoptadas foram tão brutais e desumanas
para os trabalhadores e pensionistas e até para as classe mais desfavorecidas como
estas que agora nos estão a ser impostas. Em Portugal vivem-se actualmente
momentos dramáticos. Há cada vez mais pessoas a passar por graves dificuldades,
o desemprego atingiu níveis impensáveis, a fome alastra e há cada vez mais
famílias carenciadas muitas delas a viver em silêncio os seus dramas. Há pais
que sofrem ao ouvir os filhos chorarem com fome sem terem um naco de pão para
os alimentar. Há pessoas que ficaram sem um tecto por se terem visto obrigadas
a devolver as suas casas aos bancos por não as puderem pagar, Há pais que já
idosos têm sido o amparo dos filhos desempregados e que agora deixaram de os
poder ajudar dados os constantes e criminosos cortes que lhes têm sido feito
nas suas já exíguas pensões de reforma e de sobrevivência. Há cada vez um maior
número de pessoas que deixaram de comprar os medicamentos que lhes
indispensáveis para se tratarem por não os poderem pagar. A lista das
dificuldades que afligem os portugueses é infindável e a sua enumeração
completa não caberia no espaço destinado a esta rubrica. A constituição da
república garante aos portugueses o direito ao pão, ao trabalho, à saúde, à
educação, à habitação, à justiça e à equidade de tratamento mas esses direitos
não passam de meras intenções que nenhum governo faz questão de cumprir.
O povo português vive
momentos dramáticos. Os pobres estão cada vez mais pobres, a classe média está
em vias de extinção mas paradoxalmente os ricos estão cada vez mais ricos. São
sempre os poderosos que beneficiam das crises e são sempre os mais
desfavorecidos que são obrigados a pagá-las..Não é só no domínio da economia e
finanças que a crise se sente, há também uma crise de valores que é a mãe de
todas as crises. Vivemos num mundo em que impera o egoísmo, a corrupção, a
injustiça, a prepotência, a imoralidade, a ambição desmedida, a violência, a
falta de sentimentos e de vergonha, a marginalidade, o individualismo, a
desumanidade, a intolerância e o despotismo. O homem desumanizou-se e está a
afastar-se cada vez mais dos valores cristãos que se baseiam no amor a Deus e
ao próximo e que nos ensinam a ser solidários com quem precisa da nossa ajuda.
O homem virou as costas à mensagem de Cristo, isolou-se, olha apenas para o seu
próprio umbigo e ignora o seu semelhante. Cada um que se cuide e trate da sua
vidinha que eu vou tratando da minha, é o princípio que rege cada vez um maior
número de pessoas. Perante cenário tão negro somos levados a pensar que o mundo
está perdido e não tem solução mas talvez ainda haja uma esperança de aos
poucos se ir revertendo esta situação se atentarmos nalguns exemplos de
solidariedade e amor ao próximo que nos vão chegando aqui e além. Exemplos como
aquele que referi nesta coluna num dos últimos números do nosso jornal ao
divulgar a existência de um grupo de pessoas da nossa comunidade que se uniram
para ajudar famílias vizinhas que passam por graves dificuldades económicas que
afectam também crianças a sofrer o drama da fome. Recebi recentemente um email
de um amigo que integra esse grupo, que se autodenomina como “abelhinhas
ajudantes” e que teve a gentileza de me informar que após a publicação desse
artigo algumas outras “abelhinhas” se juntaram a esse grupo para contribuírem
também com a sua ajuda. Informou-me ainda que neste último Natal todas as
famílias que estão a ser apoiadas por eles receberam cabazes de Natal
oferecidos pelo Rotary Clube de Sintra, que houve bolo-rei em todas as casas e
todas as crianças tiveram os seus presentes. Será que não haverá esperança para
o mundo quando ainda existem pessoas assim com tão elevado sentido de
solidariedade e amor ao próximo? Quero acreditar que sim.
Mais recentemente, no seio
da nossa UPS, um novo exemplo de solidariedade iluminou a nossa comunidade. Uma
irmã nossa foi atingida por uma doença que a lançou para a cama de um hospital
onde durante vários dias lutou pela sua vida que esteve gravemente ameaçada.
Perante a aflição da família e os seus apelos à oração para que, nas palavras
da mãe, acontecesse um milagre, um numeroso número de fiéis uniu-se à família
da doente na igreja de S. Miguel para numa vigília de oração orarem em conjunto
perante o Santíssimo Sacramento pela total recuperação da nossa irmã enferma. A
intervenção divina aliada à dedicação e competência dos médicos e à
determinação da doente operaram o tal milagre que a trouxe de volta à sua casa
de regresso ao seio da sua família. São exemplos destes que nos fazem acreditar
que o homem ainda é recuperável e a construção de uma sociedade melhor, mais
justa e solidária ainda é viável. Assim todos queiramos.
Guilherme Duarte
(Artigo publicado no número de Fevº de 2014 no jornal Cruz Alta)
Um artigo recentemente
publicado no nosso jornal causou um certo desconforto a alguns dos nossos
leitores. Não vou referir qual o artigo em questão porque não considero que
seja benéfico para ninguém ressuscitar a polémica mas tenho que admitir que
esse texto teve consequências, não direi que graves, mas desagradáveis. Quanto
a mim, que confesso ter ficado também um pouco incomodado com o seu teor,
levou-me a reflectir sobre a responsabilidade que recai sobre os ombros de quem
escreve em órgãos da comunicação social por muito modestos que eles sejam, como
é o nosso caso. Todos nós que escrevemos para o público somos tentados muitas
vezes a veicular as nossas opiniões pessoais como se tratassem de verdades
incontestáveis. Manifestar livremente as nossas opiniões é um direito que todos
temos, partilhá-las com os nossos leitores considero que é saudável e útil
porque promove o debate de ideias, mas querer fazê-las passar como realidades absolutas
já não é, quanto a mim, uma atitude séria nem responsável e é eticamente
reprovável.
Os ecos que me chegaram aos
ouvidos sobre a reacção de algumas pessoas ao teor desse artigo, as dúvidas e
inseguranças que ele provocou em alguns leitores e que me foram pessoalmente
transmitidas pelos próprios, soaram em mim como um toque de alarme que me
fizeram sentir a necessidade de parar para fazer um profundo exame de
consciência. Eu sei que por vezes sou polémico, tenho o coração ao pé da boca e
que não consigo controlar a minha indignação perante actos de desonestidade, de
injustiça e de prepotência. Abomino a mentira e a corrupção e também não alinho
em fundamentalismos de qualquer espécie. A questão que me pus foi muito
simples. Será que alguma vez terei exagerado nas minhas críticas mais
contundentes? Será ainda que aqui e além não terei ferido a susceptibilidade de
alguns leitores ao dar voz neste jornal à minha indignação? É verdade que
sempre fui honesto em tudo quanto tenho escrito como, graças a Deus, sempre
pautei a minha vida em padrões elevados de honestidade que me foram
transmitidos a partir do berço. Se de alguma coisa me posso orgulhar na vida é
de ter sido sempre um homem honesto e honrado e não era a possibilidade que me
é concedida de escrever neste nosso jornal que me iria fazer renegar os meus
princípios.
Já aqui afirmei uma vez que
o que se exige à comunicação social, na minha modesta opinião, é que privilegie
a informação, mas uma informação isenta, objectiva, completa e verdadeira, sem submissões
ao poder político ou a interesses económicos. Ao jornalista, ou ao articulista,
exige-se independência, rigor, honestidade e competência. Quem transmite a
notícia ou a informação deve dominar perfeitamente o tema que está a tratar
para não correr o risco de induzir em erro o leitor, o ouvinte ou o espectador.
Infelizmente nem sempre isso acontece como todos nós sabemos. Também se exige
moderação aos órgãos da imprensa escrita ou falada que não devem promover a
instabilidade, a dúvida, a depressão e a angústia. As televisões estão cada vez
mais apostadas no “espectáculo” da informação. Telejornais a toda a hora,
longos, repetitivos e muitas vezes a abordar assuntos sem o menor interesse e
outros que já foram abordados variadíssimas vezes. Recordo-me que os portugueses,
no tempo do Estado Novo, chamavam aos telejornais da RTP, a estação única na
altura, de a “Telepastilha”, As coisas hoje não estão muito diferentes, os
telejornais podem não ser já “telepastilhas”, mas são infindáveis “pastelões”
com a duração de uma hora e meia a duas horas para repetirem duas, três e
quatro vezes as mesmas notícias e as mesmas reportagens. Na perspectiva das
direcções de informação o que é preciso é encher tempo. É uma autêntica dose
para cavalo. Na minha opinião, evidentemente.
As conversas são como as
cerejas e como já vem sendo habitual já me pus a divagar. Voltando ao tema
inicial desta conversa quero deixar bem claro que quem escreve para um universo
de leitores heterogéneo de várias idades, com interesses, cultura e instrução
diferentes, com são os nossos deve ter muito cuidado para não ferir a
suceptibilidade de ninguém e para que em vez de informar não se vá dar o caso
de estarmos a espalhar a confusão, a dúvida e a insegurança. Esta situação
desagradável a que me referi no início do artigo, teve pelo menos, no que me
diz respeito, a virtude de me consciencializar ainda mais da responsabilidade
que tenho ao escrever para si caro leitor. Se alguma vez não concordar com o
que escrevo não hesite em manifestar-me a sua discordância. É para esse efeito
que divulgo aqui o meu endereço de email. Se preferir fazê-lo pessoalmente
creia que terei todo o prazer em conversar consigo.
Guilherme Duarte
(Artigo publicado no jornal Cruz Alta em Junho de 2013)
Confesso que muitas das
coisas que acontecem à minha volta me passam completamente ao lado sem que eu
me aperceba delas. Há quem diga que sou distraído, que vivo na Lua, que sou
desinteressado. Têm alguma razão as pessoas que assim pensam a meu respeito mas
não a terão totalmente. Sou distraído sim e viajo frequentemente por paragens
longínquas sem sequer sair de casa, mas desinteressado? Só para aquilo que não
me interessa e não me diz nada como por exemplo a intriga, os mexericos, a maledicência,
a vingança, a intolerância e comportamentos afins que nada têm a ver com a
minha maneira de estar na vida. Este meu distanciamento em relação a este tipo
de atitudes e a repulsa que elas me causam levam a que por vezes eu seja
surpreendido por factos que são já do conhecimento geral mas que eu desconheço
de todo. Foi o que aconteceu agora com a notícia inesperada da próxima saída do
padre António Ramires para a paróquia de Belas apenas seis anos após ter
chegado à nossa UPS. Estranhei esta permanência tão curta do P. Ramires em
Sintra dado que não é vulgar um pároco ficar tão pouco tempo numa paróquia, a
não ser que haja motivos fortes que justifiquem a mudança. Um amigo que muito
prezo e que não é nada dado ao “diz-se, diz-se” esclareceu-me que foi o próprio
padre Ramires que solicitou a sua transferência e explicou-me por alto os
motivos que teriam estado na base dessa sua decisão.
Apesar de ter ficado
indignado com o relato que me foi feito e com a mesquinhez e a intolerância revelada
por quem se intitula cristão e toma atitudes que de cristãs não têm nada, tinha
decidido não abordar este tema nas páginas do nosso jornal mas, pensando melhor,
achei que não devia calar o que me vai na alma e decidi dar voz à frontalidade
que sempre me caracterizou e que não me deixa ficar calado quando a justiça é
atropelada. Não vou, obviamente, entrar em pormenores nem apontar o dedo a
ninguém, nem saberia a quem o fazer mesmo que tivesse essa intenção, mas vou lançar
um desafio aos nossos leitores, principalmente àqueles cuja consciência possa
estar um tanto ou quanto pesada, e que serão muito poucos, calculo eu. Somos
uma comunidade cristã que deve seguir os ensinamentos de Cristo que entre
muitas outras coisas nos incentiva a amar o próximo como a nós mesmos. Amar o
próximo não é hostilizá-lo nem tentar afastá-lo do nosso convívio. Amar o
próximo é ser solidário com ele, ajudando-o e apoiando-o, sendo sempre leais e
sinceros. Não teremos que estar sempre de acordo com ele nem com as decisões
que toma mas temos a obrigação de dialogarmos, olhos nos olhos, expondo as
razões de queixa que pensamos ter, mas estando sempre dispostos também a ouvir.
Criticar nas costas é feio e fazer queixinhas é uma atitude própria de crianças
e nunca de pessoas adultas que pretendem ser respeitadas e levadas a sério.
O desafio que lanço é muito
simples. Sugiro que olhemos para dentro de nós com sinceridade e
questionemo-nos se somos assim tão bons cristãos como nos julgamos? Uma
esmagadora maioria da nossa comunidade sê-lo-á com toda a certeza. Quanto a mim
confesso desde já que estou muito longe de o ser mas maledicência e hipocrisia
não fazem parte dos meus hábitos comportamentais. Desses pecados não tenho que
me penitenciar. Sou intolerante? Sou sim senhor, mas apenas com comportamentos
que desrespeitem e prejudiquem deliberadamente outras pessoas como parece ter sido
o caso agora em questão. Aconselho, se é que me permitem que o faça, a alguns
dos nossos irmãos que tal como eu não serão assim cristãos tão perfeitos e
exemplares que façam um exame de consciência. O que nos falta para sermos
cristãos a sério? Ir à igreja todos os domingos, (ou sábados), para ASSISTIR, à
missa não é o suficiente..Não podemos ser cristãos apenas uma hora por semana
mas sim todos os dias e a todas as horas. Jesus ensina-nos a ser caridosos,
bondosos, solidários, honestos e tolerantes. O cristão não deve hostilizar ou
segregar ninguém. Não pode ser vingativo nem intolerante. E ser queixinhas também
não.
Amar o próximo como a nós
mesmos é o caminho que Jesus nos desafia a trilhar. Comecemos por aí.
NOTA
DO AUTOR: Peço desculpa à esmagadora maioria dos nossos leitores
que não têm nada a ver com os factos que ocorreram recentemente no seio da nossa
comunidade ed que motivaram este desabafo. Graças a Deus são muitos os irmãos
nossos que são verdadeiros exemplos de conduta cristã, para todos nós.
Aos padres António e
Raimundo que estão agora de partida para pastorear outro rebanho noutras
paragens desejo as maiores felicidades. Que Deus nunca lhes falte com a sua
graça e o seu apoio.
Guilherme Duarte
(Texto publicado no jornal Cruz Alta de Julho 2013)
PS: Alguns dos textos que aqui coloco estão desfazados no tempo e não fazem agora muito sentido, mas por motivos que muitos dos meus amigos conhecem tive de anular todos os blogues que tinha há anos e estou agora a tentar refaze-los, na medida do possível
Desde
criança que me habituei a olhar com atenção para tudo o que me rodeia. Não consigo
viver alheado do mundo, nem das pessoas, embora cada vez goste menos daquilo
que ouço e observo. Podia assobiar para o lado, olhar para o ar e ignorar toda
a “porcaria” com que diariamente me cruzo? Podia, mas não sou capaz. Por isso
me irrito e revolto tantas vezes e por tantos motivos. É certo que sou
intolerante com comportamentos incivilizados e faltas de educação e de respeito,
mas sou saloio e como saloio que me prezo de ser, não consigo, nem quero, ser
dissimulado nem hipócrita. Se alguma qualidade os saloios têm, e têm muitas,
uma delas é a da franqueza e da frontalidade.
Já me desviei um pouco do
tema da minha conversa de hoje que tem a ver com a necessidade que todos nós
devemos sentir de reservarmos diariamente alguns minutos para dedicarmos à
reflexão, mas este é também um espaço aberto à divagação. Não estranhe o leitor
se, como se diz popularmente, eu comece estas
conversas a falar “em alhos para acabar a falar em bogalhos”. Não vejo qualquer
incoveniente nesta dispersão do pensamento desde que siga uma linha lógica de
raciocínio. Como disse ao começar esta
conversa, sou um observador atento do mundo em que vivo e quer-me parecer que
anda por aí um mal que se tem vindo a propagar quase sem darmos por isso, chama-se
preguiça mental e é provocada em grande parte pelo ritmo alucinante que a vida
actualmente nos impõe. O acto de pensar e reflectir é um exercício fundamental
para exercitar a nossa agilidade mental e a inteligência e impedi-la de ficar
preguiçosa. É verdade que há demasiadas solicitações no nosso dia a dia que nos
ocupam tempo, nos distraiem e nos fazem esquecer a necessidade de pensar. Pensar ocupa tempo e exige concentração. Pensar
dá trabalho, mas é um trabalho que nos valoriza, que nos faz crescer, dá-nos
uma maior capacidade de análise, fortalece as nossas convicções e torna-nos mais
confiantes e mais seguros para defendermos os nossos valores e os nossos ideais
e torna-nos ainda menos vulneráveis a ideias e formas de pensar diferentes das
nossas com que tantas vezes somos confrontados e que nos pretendem impôr..
Quando nos recusamos a
seguir a opinião alheia que nada tem a ver com a nossa e mantemos com firmeza a
nossa própria opinião é frequente atirarem-nos à cara com a célebre frase de que
“só os burros é que não mudam”. Eu costumo responder a este argumento falacioso
e ofensivo afirmando que burro será quem muda de opinião sem um fundamento
sólido e só porque os outros querem. Deus deu-nos a faculdade de pensar e a
inteligência, para podermos ser livres e tomarmos as nossas próprias decisões e
não para que deixemos que os outros pensem por nós. Claro que as podemos mudar mas
sempre como resultado inequívoco do nosso pensar, do nosso sentir, do nosso
raciocínio e clarividência, e nunca porque os outros nos querem obrigar a
fazê-lo.
Vem esta conversa a propósito de uma campanha
lançada pelos responsáveis pelo jornal “Expresso” para publicitar a comemoração
do seu quadragésimo aniversário. Afirmam eles com orgulho que há quarenta anos
que o “Expresso” anda a FAZER a opinião dos portugueses. Incomoda-me esta
afirmação e incomoda-me mais ainda porque penso que existe nela alguma ponta de
verdade. Acredito que há uma percentagem significativa de portugueses cujas
opiniões sobre política e sobre muitas outras matérias não são mais que um
“upload” das opiniões dos comentadores que lêm nos jornais ou ouvem nas
televisões. Tomam por verdades absolutas todas as afirmações feitas pelos
vários jornalistas e comentadores sem muitas vezes saberem quem eles são, que
qualificações têm, que ideologia defendem e quais os interesses que os movem.
Na vida nem tudo é tão claro nem tão inocente como nos querem fazer crer.
Considero esta frase
publicitária do jornal “Expresso” um atestado de menoridade aos seus leitores.
Eu nunca permiti, nem permitirei que a
minha opinião seja FEITA por nenhum
orgão de comunicação social nem por nenhum jornalista ou comentador. Dos orgãos
de comunicação social exijo apenas informação rigorosa, séria e verdadeira, que
me habilite a ser eu a FAZER a minha própria opinião, direito de que não
prescindo e que não delego em ninguém. É que como já disse, sou saloio, e se
algum defeito os saloios têm, e terão talvez um ou outro, é o de serem
desconfiados. É que, eles são saloios mas não são parvos.
Guilherme Duarte
(Artigo publicado no número de Fevº de 2013 do jornal Cruz Alta)
A
população mais idosa está na mira dos governantes do nosso país e está na mira,
não porque estes estejam preocupados com o seu bem estar e empenhados em
proporcionar-lhes uma velhice digna, confortável e com a qualidade que merecem
mas porque, para eles, os idosos, não passam de um empecilho e um encargo
insuportável para os cofres do Estado. Para falar mais claro, os idosos são,
para quem nos governa, uns parasitas que nada fazem e que vivem à custa
do erário público sem terem para o país qualquer espécie de utilidade. É assim
que os nossos governantes pensam embora não o digam claramente mas as medidas
gravosas que têm vindo sucessivamente a tomar e que penalizam sempre os idosos
revelam aquilo que eles tentam esconder. O
Primeiro-Ministro afirmou recentemente que os reformados e pensionistas em Portugal
não pagaram o suficiente para terem direito às reformas que recebem. Tem
razão o nosso primeiro que pecou apenas por generalizar e não ter identificado
inequivocamente a quem se estava a referir. Há de facto muita gente em Portugal
a receber reformas imerecidas porque não trabalharam nem pagaram o suficiente
para as justificar, mas esses não são certamente os trabalhadores que após uma
vida inteira de trabalho e de terem contribuído para criar riqueza para o nosso
país, só têm direito a reformar-se aos 65 anos trazendo consigo, na grande
maioria dos casos, pensões que mal chegam para garantir a sua subsistência. O
Primeiro-Ministro quereria certamente referir-se àqueles senhores privilegiados
que após doze anos no exercício de cargos políticos passam a ter direito a
receber uma apreciável pensão de reforma, qualquer que seja a sua idade e mesmo
que nada de relevante tenham feito em prol da nação durante os seus mandatos.
A verdade é que de há uns
tempos a esta parte temos vindo a ouvir frequentemente da boca de membros do governo, ou de alguns dos seus fiéis arautos, que a
esperança de vida dos portugueses tem vindo a aumentar. Não haveria nada de mal
nessas afirmações se não descortinássemos nelas uma boa dose de lamúria. Quando
se esperaria que os nossos governantes se regozijassem com o progresso da
ciência médica e aproveitassem essa realidade para destacarem o sucesso da
política de saúde do nosso país, ainda que com alguma demagogia à mistura, pelo contrário, sentem-se tão incomodados com
esse facto que chegam a esquecer a decência e o sentido de humanidade e da
vergonha permitindo-se o desplante de vir publicamente lamentar-se por os
portugueses estarem a viver tempo demais. O país ouve e fica estupefacto.
Para esta nova geração de, (
péssimos), políticos desprovidos de coração, que pouco ou nada fizeram de útil
na vida, sem o mínimo de sensibilidade social e de respeito pelo povo que os
elegeu, o direito à vida está dependente de uma mera avaliação contabilística.
Para estes aprendizes de políticos, incompetentes e desumanos, o raciocínio é
muito simples; se dás lucro ao Estado
podes viver, se apenas és um encargo e dás despesa, então vê se morres
rapidamente. Esta forma de pensar e fazer política é tremendamente cruel e
exala um acentuado fedor neonazi..
Esta hostilidade contra os idosos, para
além de injusta é também estúpida e cruel. Cresce no cérebro minúsculo de
alguns dos nossos políticos a ideia que
os idosos são perniciosos para o Estado e constituem um fardo tão dispendioso que
seria conveniente para o país que não vivessem tanto tempo. Quem alimenta na
sua cabeça tais ideias, ou é criminoso ou sofre de algum distúrbio mental grave
a requerer tratamento urgente. Perante esta nova mentalidade, a palavra que imediatamente
me ocorre para qualificar estas ideias perversas é apenas uma: EXTERMINAÇÃO.
Dir-me-ão que é uma palavra demasiado violenta, mas se pensarmos bem e
estivermos atentos a tudo o que esta gente diz e faz, teremos que concluir que
não é uma palavra totalmente desadequada. Hitler era um louco, um alucinado que
em vez de ter sido internado numa clínica psiquiátrica foi eleito para liderar
e governar a Alemanha. Resultado? Uma guerra longa e sangrenta, a Europa
arrasada e muitos milhões de mortos pelo caminho. Ficou demonstrado
inequivocamente e de forma trágica, que é muito perigoso entregar um país nas
mãos deloucos.
De quando em vez as televisões e o cinema,
“paraque o mundo não esqueça”, mostram-nos imagens dos campos de extermínio
nazis como Auchewitz, Bikernau, Treblinka, Chelmno, Jasenovac entre outros,
onde foram exterminados alguns milhões de judeus, apenas por serem judeus. As
gerações mais antigas não esqueceram, nem poderiam esquecer, a barbaridade
desses crimes, mas os mais novos, na sua maioria, talvez não saibam ou não
estejam conscientes dos horrores vividos na Europa entre 1939 e 1945. Talvez
desconheçam até o que foi o holocausto, e aqueles que sabem não acreditam que
uma situação semelhante se possa vir a repetir nos dias de hoje. Estão redondamente
enganados. Os holocaustos nunca deixaram de se praticar e, de diversas formas, continuam
a existir um pouco por todo o mundo, basta que estejamos atentos aos
noticiários para constatarmos que centenas de milhares de seres humanos
continuam a morrer, vítimas da violência das muitas guerras e guerrilhas que
proliferam por este mundo fora. Não podemos baixar a guarda e devemos
permanecer sempre alerta para combater a tentativa de evitar que políticas que
desrespeitem o homem e o seu direito à dignidade, à saúde e à vida, venham a
ser adoptadas em Portugal. O perigo espreita. Os idosos estão em risco. Temos
que estar muito atentos. A bandeira portuguesa ostenta orgulhosamente a esfera
armilar, as cinco quinas e os sete castelos. Não queremos ver lá, um dia, também
a cruz suástica.
Caros amigos, acreditem que eu não estou a
delirar e garanto que me encontro no meu perfeito juízo. Tudo o que acabei de
afirmar pode parecer exagerado mas é
fruto de uma observação atenta de tudo quanto vejo, do que leio e do que ouço.
Mas que vi, li ou ouvi eu que me permita tirar semelhantes conclusões? Eu digo.
Há dias li que o ministro das Finanças do novo governo japonês afirmou publicamente que os idosos deviam
morrer depressa para não constituírem um encargo para o Estado, (curiosamente o
Japão foi no passado um aliado fiel de Hitler e da Alemanha nazi). Mas isso é
no Japão, que temos nós a ver com isso? Temos e muito porque recentemente um
deputado português escreveu num artigo que publicou num jornal, entre outras
coisas, que Portugal está a ser “CONTAMINADO pela já conhecida PESTE GRISALHA” e que o envelhecimento da população é
“ASSUSTADOR
porque provoca um aumento penoso dos encargos sociais com reformas, pensões e
assistência médica”. A guerra ao idoso é que é a peste que devemos temer,
uma peste tão contagiosa que num ápice saltou de Tóquio até Lisboa. Sr.
deputado Carlos Peixoto, acautele-se porque os anos passam céleres e os cabelos
embranquecem depressa. O seu irá embranquecer também, a menos que fique careca.
Mas careca ou não, os anos ir-se-ão acumulando.Que deseja o senhor para si quando
a “peste” da velhice lhe bater à porta?