sábado, 3 de maio de 2014

DIVAGAÇÃO SOBRE OS "MEDIA"

                

Um artigo recentemente publicado no nosso jornal causou um certo desconforto a alguns dos nossos leitores. Não vou referir qual o artigo em questão porque não considero que seja benéfico para ninguém ressuscitar a polémica mas tenho que admitir que esse texto teve consequências, não direi que graves, mas desagradáveis. Quanto a mim, que confesso ter ficado também um pouco incomodado com o seu teor, levou-me a reflectir sobre a responsabilidade que recai sobre os ombros de quem escreve em órgãos da comunicação social por muito modestos que eles sejam, como é o nosso caso. Todos nós que escrevemos para o público somos tentados muitas vezes a veicular as nossas opiniões pessoais como se tratassem de verdades incontestáveis. Manifestar livremente as nossas opiniões é um direito que todos temos, partilhá-las com os nossos leitores considero que é saudável e útil porque promove o debate de ideias, mas querer fazê-las passar como realidades absolutas já não é, quanto a mim, uma atitude séria nem responsável e é eticamente reprovável.

Os ecos que me chegaram aos ouvidos sobre a reacção de algumas pessoas ao teor desse artigo, as dúvidas e inseguranças que ele provocou em alguns leitores e que me foram pessoalmente transmitidas pelos próprios, soaram em mim como um toque de alarme que me fizeram sentir a necessidade de parar para fazer um profundo exame de consciência. Eu sei que por vezes sou polémico, tenho o coração ao pé da boca e que não consigo controlar a minha indignação perante actos de desonestidade, de injustiça e de prepotência. Abomino a mentira e a corrupção e também não alinho em fundamentalismos de qualquer espécie. A questão que me pus foi muito simples. Será que alguma vez terei exagerado nas minhas críticas mais contundentes? Será ainda que aqui e além não terei ferido a susceptibilidade de alguns leitores ao dar voz neste jornal à minha indignação? É verdade que sempre fui honesto em tudo quanto tenho escrito como, graças a Deus, sempre pautei a minha vida em padrões elevados de honestidade que me foram transmitidos a partir do berço. Se de alguma coisa me posso orgulhar na vida é de ter sido sempre um homem honesto e honrado e não era a possibilidade que me é concedida de escrever neste nosso jornal que me iria fazer renegar os meus princípios.

Já aqui afirmei uma vez que o que se exige à comunicação social, na minha modesta opinião, é que privilegie a informação, mas uma informação isenta, objectiva, completa e verdadeira, sem submissões ao poder político ou a interesses económicos. Ao jornalista, ou ao articulista, exige-se independência, rigor, honestidade e competência. Quem transmite a notícia ou a informação deve dominar perfeitamente o tema que está a tratar para não correr o risco de induzir em erro o leitor, o ouvinte ou o espectador. Infelizmente nem sempre isso acontece como todos nós sabemos. Também se exige moderação aos órgãos da imprensa escrita ou falada que não devem promover a instabilidade, a dúvida, a depressão e a angústia. As televisões estão cada vez mais apostadas no “espectáculo” da informação. Telejornais a toda a hora, longos, repetitivos e muitas vezes a abordar assuntos sem o menor interesse e outros que já foram abordados variadíssimas vezes. Recordo-me que os portugueses, no tempo do Estado Novo, chamavam aos telejornais da RTP, a estação única na altura, de a “Telepastilha”, As coisas hoje não estão muito diferentes, os telejornais podem não ser já “telepastilhas”, mas são infindáveis “pastelões” com a duração de uma hora e meia a duas horas para repetirem duas, três e quatro vezes as mesmas notícias e as mesmas reportagens. Na perspectiva das direcções de informação o que é preciso é encher tempo. É uma autêntica dose para cavalo. Na minha opinião, evidentemente.

As conversas são como as cerejas e como já vem sendo habitual já me pus a divagar. Voltando ao tema inicial desta conversa quero deixar bem claro que quem escreve para um universo de leitores heterogéneo de várias idades, com interesses, cultura e instrução diferentes, com são os nossos deve ter muito cuidado para não ferir a suceptibilidade de ninguém e para que em vez de informar não se vá dar o caso de estarmos a espalhar a confusão, a dúvida e a insegurança. Esta situação desagradável a que me referi no início do artigo, teve pelo menos, no que me diz respeito, a virtude de me consciencializar ainda mais da responsabilidade que tenho ao escrever para si caro leitor. Se alguma vez não concordar com o que escrevo não hesite em manifestar-me a sua discordância. É para esse efeito que divulgo aqui o meu endereço de email. Se preferir fazê-lo pessoalmente creia que terei todo o prazer em conversar consigo.


Guilherme Duarte

(Artigo publicado no jornal Cruz Alta em Junho de 2013)

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