Um artigo recentemente
publicado no nosso jornal causou um certo desconforto a alguns dos nossos
leitores. Não vou referir qual o artigo em questão porque não considero que
seja benéfico para ninguém ressuscitar a polémica mas tenho que admitir que
esse texto teve consequências, não direi que graves, mas desagradáveis. Quanto
a mim, que confesso ter ficado também um pouco incomodado com o seu teor,
levou-me a reflectir sobre a responsabilidade que recai sobre os ombros de quem
escreve em órgãos da comunicação social por muito modestos que eles sejam, como
é o nosso caso. Todos nós que escrevemos para o público somos tentados muitas
vezes a veicular as nossas opiniões pessoais como se tratassem de verdades
incontestáveis. Manifestar livremente as nossas opiniões é um direito que todos
temos, partilhá-las com os nossos leitores considero que é saudável e útil
porque promove o debate de ideias, mas querer fazê-las passar como realidades absolutas
já não é, quanto a mim, uma atitude séria nem responsável e é eticamente
reprovável.
Os ecos que me chegaram aos
ouvidos sobre a reacção de algumas pessoas ao teor desse artigo, as dúvidas e
inseguranças que ele provocou em alguns leitores e que me foram pessoalmente
transmitidas pelos próprios, soaram em mim como um toque de alarme que me
fizeram sentir a necessidade de parar para fazer um profundo exame de
consciência. Eu sei que por vezes sou polémico, tenho o coração ao pé da boca e
que não consigo controlar a minha indignação perante actos de desonestidade, de
injustiça e de prepotência. Abomino a mentira e a corrupção e também não alinho
em fundamentalismos de qualquer espécie. A questão que me pus foi muito
simples. Será que alguma vez terei exagerado nas minhas críticas mais
contundentes? Será ainda que aqui e além não terei ferido a susceptibilidade de
alguns leitores ao dar voz neste jornal à minha indignação? É verdade que
sempre fui honesto em tudo quanto tenho escrito como, graças a Deus, sempre
pautei a minha vida em padrões elevados de honestidade que me foram
transmitidos a partir do berço. Se de alguma coisa me posso orgulhar na vida é
de ter sido sempre um homem honesto e honrado e não era a possibilidade que me
é concedida de escrever neste nosso jornal que me iria fazer renegar os meus
princípios.
Já aqui afirmei uma vez que
o que se exige à comunicação social, na minha modesta opinião, é que privilegie
a informação, mas uma informação isenta, objectiva, completa e verdadeira, sem submissões
ao poder político ou a interesses económicos. Ao jornalista, ou ao articulista,
exige-se independência, rigor, honestidade e competência. Quem transmite a
notícia ou a informação deve dominar perfeitamente o tema que está a tratar
para não correr o risco de induzir em erro o leitor, o ouvinte ou o espectador.
Infelizmente nem sempre isso acontece como todos nós sabemos. Também se exige
moderação aos órgãos da imprensa escrita ou falada que não devem promover a
instabilidade, a dúvida, a depressão e a angústia. As televisões estão cada vez
mais apostadas no “espectáculo” da informação. Telejornais a toda a hora,
longos, repetitivos e muitas vezes a abordar assuntos sem o menor interesse e
outros que já foram abordados variadíssimas vezes. Recordo-me que os portugueses,
no tempo do Estado Novo, chamavam aos telejornais da RTP, a estação única na
altura, de a “Telepastilha”, As coisas hoje não estão muito diferentes, os
telejornais podem não ser já “telepastilhas”, mas são infindáveis “pastelões”
com a duração de uma hora e meia a duas horas para repetirem duas, três e
quatro vezes as mesmas notícias e as mesmas reportagens. Na perspectiva das
direcções de informação o que é preciso é encher tempo. É uma autêntica dose
para cavalo. Na minha opinião, evidentemente.
As conversas são como as
cerejas e como já vem sendo habitual já me pus a divagar. Voltando ao tema
inicial desta conversa quero deixar bem claro que quem escreve para um universo
de leitores heterogéneo de várias idades, com interesses, cultura e instrução
diferentes, com são os nossos deve ter muito cuidado para não ferir a
suceptibilidade de ninguém e para que em vez de informar não se vá dar o caso
de estarmos a espalhar a confusão, a dúvida e a insegurança. Esta situação
desagradável a que me referi no início do artigo, teve pelo menos, no que me
diz respeito, a virtude de me consciencializar ainda mais da responsabilidade
que tenho ao escrever para si caro leitor. Se alguma vez não concordar com o
que escrevo não hesite em manifestar-me a sua discordância. É para esse efeito
que divulgo aqui o meu endereço de email. Se preferir fazê-lo pessoalmente
creia que terei todo o prazer em conversar consigo.
Guilherme Duarte
(Artigo publicado no jornal Cruz Alta em Junho de 2013)
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