sexta-feira, 2 de maio de 2014

SEREMOS NÓS CRISTÃOS DE VERDADE?

                          

Confesso que muitas das coisas que acontecem à minha volta me passam completamente ao lado sem que eu me aperceba delas. Há quem diga que sou distraído, que vivo na Lua, que sou desinteressado. Têm alguma razão as pessoas que assim pensam a meu respeito mas não a terão totalmente. Sou distraído sim e viajo frequentemente por paragens longínquas sem sequer sair de casa, mas desinteressado? Só para aquilo que não me interessa e não me diz nada como por exemplo a intriga, os mexericos, a maledicência, a vingança, a intolerância e comportamentos afins que nada têm a ver com a minha maneira de estar na vida. Este meu distanciamento em relação a este tipo de atitudes e a repulsa que elas me causam levam a que por vezes eu seja surpreendido por factos que são já do conhecimento geral mas que eu desconheço de todo. Foi o que aconteceu agora com a notícia inesperada da próxima saída do padre António Ramires para a paróquia de Belas apenas seis anos após ter chegado à nossa UPS. Estranhei esta permanência tão curta do P. Ramires em Sintra dado que não é vulgar um pároco ficar tão pouco tempo numa paróquia, a não ser que haja motivos fortes que justifiquem a mudança. Um amigo que muito prezo e que não é nada dado ao “diz-se, diz-se” esclareceu-me que foi o próprio padre Ramires que solicitou a sua transferência e explicou-me por alto os motivos que teriam estado na base dessa sua decisão.

Apesar de ter ficado indignado com o relato que me foi feito e com a mesquinhez e a intolerância revelada por quem se intitula cristão e toma atitudes que de cristãs não têm nada, tinha decidido não abordar este tema nas páginas do nosso jornal mas, pensando melhor, achei que não devia calar o que me vai na alma e decidi dar voz à frontalidade que sempre me caracterizou e que não me deixa ficar calado quando a justiça é atropelada. Não vou, obviamente, entrar em pormenores nem apontar o dedo a ninguém, nem saberia a quem o fazer mesmo que tivesse essa intenção, mas vou lançar um desafio aos nossos leitores, principalmente àqueles cuja consciência possa estar um tanto ou quanto pesada, e que serão muito poucos, calculo eu. Somos uma comunidade cristã que deve seguir os ensinamentos de Cristo que entre muitas outras coisas nos incentiva a amar o próximo como a nós mesmos. Amar o próximo não é hostilizá-lo nem tentar afastá-lo do nosso convívio. Amar o próximo é ser solidário com ele, ajudando-o e apoiando-o, sendo sempre leais e sinceros. Não teremos que estar sempre de acordo com ele nem com as decisões que toma mas temos a obrigação de dialogarmos, olhos nos olhos, expondo as razões de queixa que pensamos ter, mas estando sempre dispostos também a ouvir. Criticar nas costas é feio e fazer queixinhas é uma atitude própria de crianças e nunca de pessoas adultas que pretendem ser respeitadas e levadas a sério.

O desafio que lanço é muito simples. Sugiro que olhemos para dentro de nós com sinceridade e questionemo-nos se somos assim tão bons cristãos como nos julgamos? Uma esmagadora maioria da nossa comunidade sê-lo-á com toda a certeza. Quanto a mim confesso desde já que estou muito longe de o ser mas maledicência e hipocrisia não fazem parte dos meus hábitos comportamentais. Desses pecados não tenho que me penitenciar. Sou intolerante? Sou sim senhor, mas apenas com comportamentos que desrespeitem e prejudiquem deliberadamente outras pessoas como parece ter sido o caso agora em questão. Aconselho, se é que me permitem que o faça, a alguns dos nossos irmãos que tal como eu não serão assim cristãos tão perfeitos e exemplares que façam um exame de consciência. O que nos falta para sermos cristãos a sério? Ir à igreja todos os domingos, (ou sábados), para ASSISTIR, à missa não é o suficiente..Não podemos ser cristãos apenas uma hora por semana mas sim todos os dias e a todas as horas. Jesus ensina-nos a ser caridosos, bondosos, solidários, honestos e tolerantes. O cristão não deve hostilizar ou segregar ninguém. Não pode ser vingativo nem intolerante. E ser queixinhas também não.

Amar o próximo como a nós mesmos é o caminho que Jesus nos desafia a trilhar. Comecemos por aí.

NOTA DO AUTOR: Peço desculpa à esmagadora maioria dos nossos leitores que não têm nada a ver com os factos que ocorreram recentemente no seio da nossa comunidade ed que motivaram este desabafo. Graças a Deus são muitos os irmãos nossos que são verdadeiros exemplos de conduta cristã, para todos nós.
Aos padres António e Raimundo que estão agora de partida para pastorear outro rebanho noutras paragens desejo as maiores felicidades. Que Deus nunca lhes falte com a sua graça e o seu apoio.


Guilherme Duarte

(Texto publicado no jornal Cruz Alta de Julho 2013)

PS:  Alguns dos textos que aqui coloco estão desfazados no tempo e não fazem agora muito sentido, mas por motivos que muitos dos meus amigos conhecem tive de anular todos os blogues que tinha há anos e estou agora a tentar refaze-los, na medida do possível

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