Confesso que muitas das
coisas que acontecem à minha volta me passam completamente ao lado sem que eu
me aperceba delas. Há quem diga que sou distraído, que vivo na Lua, que sou
desinteressado. Têm alguma razão as pessoas que assim pensam a meu respeito mas
não a terão totalmente. Sou distraído sim e viajo frequentemente por paragens
longínquas sem sequer sair de casa, mas desinteressado? Só para aquilo que não
me interessa e não me diz nada como por exemplo a intriga, os mexericos, a maledicência,
a vingança, a intolerância e comportamentos afins que nada têm a ver com a
minha maneira de estar na vida. Este meu distanciamento em relação a este tipo
de atitudes e a repulsa que elas me causam levam a que por vezes eu seja
surpreendido por factos que são já do conhecimento geral mas que eu desconheço
de todo. Foi o que aconteceu agora com a notícia inesperada da próxima saída do
padre António Ramires para a paróquia de Belas apenas seis anos após ter
chegado à nossa UPS. Estranhei esta permanência tão curta do P. Ramires em
Sintra dado que não é vulgar um pároco ficar tão pouco tempo numa paróquia, a
não ser que haja motivos fortes que justifiquem a mudança. Um amigo que muito
prezo e que não é nada dado ao “diz-se, diz-se” esclareceu-me que foi o próprio
padre Ramires que solicitou a sua transferência e explicou-me por alto os
motivos que teriam estado na base dessa sua decisão.
Apesar de ter ficado
indignado com o relato que me foi feito e com a mesquinhez e a intolerância revelada
por quem se intitula cristão e toma atitudes que de cristãs não têm nada, tinha
decidido não abordar este tema nas páginas do nosso jornal mas, pensando melhor,
achei que não devia calar o que me vai na alma e decidi dar voz à frontalidade
que sempre me caracterizou e que não me deixa ficar calado quando a justiça é
atropelada. Não vou, obviamente, entrar em pormenores nem apontar o dedo a
ninguém, nem saberia a quem o fazer mesmo que tivesse essa intenção, mas vou lançar
um desafio aos nossos leitores, principalmente àqueles cuja consciência possa
estar um tanto ou quanto pesada, e que serão muito poucos, calculo eu. Somos
uma comunidade cristã que deve seguir os ensinamentos de Cristo que entre
muitas outras coisas nos incentiva a amar o próximo como a nós mesmos. Amar o
próximo não é hostilizá-lo nem tentar afastá-lo do nosso convívio. Amar o
próximo é ser solidário com ele, ajudando-o e apoiando-o, sendo sempre leais e
sinceros. Não teremos que estar sempre de acordo com ele nem com as decisões
que toma mas temos a obrigação de dialogarmos, olhos nos olhos, expondo as
razões de queixa que pensamos ter, mas estando sempre dispostos também a ouvir.
Criticar nas costas é feio e fazer queixinhas é uma atitude própria de crianças
e nunca de pessoas adultas que pretendem ser respeitadas e levadas a sério.
O desafio que lanço é muito
simples. Sugiro que olhemos para dentro de nós com sinceridade e
questionemo-nos se somos assim tão bons cristãos como nos julgamos? Uma
esmagadora maioria da nossa comunidade sê-lo-á com toda a certeza. Quanto a mim
confesso desde já que estou muito longe de o ser mas maledicência e hipocrisia
não fazem parte dos meus hábitos comportamentais. Desses pecados não tenho que
me penitenciar. Sou intolerante? Sou sim senhor, mas apenas com comportamentos
que desrespeitem e prejudiquem deliberadamente outras pessoas como parece ter sido
o caso agora em questão. Aconselho, se é que me permitem que o faça, a alguns
dos nossos irmãos que tal como eu não serão assim cristãos tão perfeitos e
exemplares que façam um exame de consciência. O que nos falta para sermos
cristãos a sério? Ir à igreja todos os domingos, (ou sábados), para ASSISTIR, à
missa não é o suficiente..Não podemos ser cristãos apenas uma hora por semana
mas sim todos os dias e a todas as horas. Jesus ensina-nos a ser caridosos,
bondosos, solidários, honestos e tolerantes. O cristão não deve hostilizar ou
segregar ninguém. Não pode ser vingativo nem intolerante. E ser queixinhas também
não.
Amar o próximo como a nós
mesmos é o caminho que Jesus nos desafia a trilhar. Comecemos por aí.
NOTA
DO AUTOR: Peço desculpa à esmagadora maioria dos nossos leitores
que não têm nada a ver com os factos que ocorreram recentemente no seio da nossa
comunidade ed que motivaram este desabafo. Graças a Deus são muitos os irmãos
nossos que são verdadeiros exemplos de conduta cristã, para todos nós.
Aos padres António e
Raimundo que estão agora de partida para pastorear outro rebanho noutras
paragens desejo as maiores felicidades. Que Deus nunca lhes falte com a sua
graça e o seu apoio.
Guilherme Duarte
(Texto publicado no jornal Cruz Alta de Julho 2013)
PS: Alguns dos textos que aqui coloco estão desfazados no tempo e não fazem agora muito sentido, mas por motivos que muitos dos meus amigos conhecem tive de anular todos os blogues que tinha há anos e estou agora a tentar refaze-los, na medida do possível
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