quarta-feira, 7 de maio de 2014

MAIO, O MAIS BELO MÊS DO ANO

                                                         
                                 
“Andava um dia
 Em pequenino
 Nos arredores de Nazaré
 Em companhia de S. José
 O Deus Menino
 O Bom Jesus/…..”.

É assim que começa um poema que decerto nos faz regressar, com uma pontinha de saudade, aos longínquos tempos da nossa meninice. Este foi, para mim e para todas as pessoas da minha geração o primeiro contacto que tivemos com a poesia. É com este poema carregado de ternura que João de Deus termina a inesquecível Cartilha Maternal através da qual nos ensinou as primeiras letras, a juntá-las e a conseguir soletrá-las. Em suma, foi nessa cartilha, diria que mágica, que aprendemos a ler. João de Deus, no final da cartilha e sabendo-nos já aptos para a leitura, ainda que algo incipiente naquela idade, decidiu encantar-nos com um poema de uma ternura, uma simplicidade e uma ingenuidade tão grandes que o tornam verdadeiramente cativante; ao ponto de ser impossível esquecê-lo ao longo de toda a nossa vida. O ”Hino de Amor”, assim se intitula o poema, e a maravilhosa “Balada da Neve” de Augusto Gil que o livro da 2ª classe nos oferece, despertaram em muitos de nós, os mais velhos, o gosto pela poesia. Não é porém de poesia que pretendo falar este mês. Talvez numa próxima ocasião.  Esta referência ao poema de João de Deus veio-me à lembrança a propósito do mês de Maio, para mim o mais bonito mês do ano. Maio, o mês de Maria, o mês da mãe e também o mês das flores, dos aromas inebriantes e das melodias irreverentes do alegre trinar da passarada.

Terá sido por acaso que Nossa Senhora escolheu o mês de Maio para aparecer aos pastorinhos na Cova da Iria, num descampado, nessa altura certamente coberto por um manto multicolorido de flores campestres a rodear as azinheiras? Nossa Senhora fez a sua primeira aparição no mês de Maio e sinto que não fez por acaso. È enternecedora e muito bonita a associação da nossa Mãe do Céu à nossa mãe terrena num cenário florido, policromo e odoroso. Será possível imaginar algo mais encantador? Para mim, não. Já nos tempos de seminarista no mês de Maio enfeitava a minha mesa de estudo com uma pequena imagem de Nossa Senhora, uma fotografia da minha mãe, que nasceu no mês de Maio, e um pequeno ramo de flores campestres que colhia durante os passeios semanais das quintas-feiras. Já nessa altura, no início da minha adolescência Maio era, e é ainda hoje, um mês que me encanta
.
Mas que terá tudo isto a ver com o poema de João de Deus que referi no início desta conversa? Vou tentar explicar. Estamos no mês da Maria, o mês de Nossa Senhora, a Mãe extremosa de Jesus e esposa dedicada de S. José. Celebrando a Virgem temos que recordar também Jesus, não só O Jesus, Filho de Deus durante a sua vida pública mas também O Jesus que se fez homem, que foi criança e que como qualquer outra criança cresceu no seio de uma família que o amava, que o acarinhava, que brincava e passeava com Ele. Não podemos celebrar Maria sem celebrar também a Sagrada Família. João de Deus descreve no seu poema Jesus ainda menino a passear pelos campos na companhia de S. José. O poeta dá-nos o mote, cabe-nos a nós completar o quadro. Quanto a mim vejo Jesus a brincar e a saltar pelo campo sob o olhar atento e carinhoso de S. José, num intervalo do seu trabalho na carpintaria, enquanto em casa Nossa Senhora prepara a refeição para a família. Bondoso e sensível Jesus defende o rouxinol do ataque da serpente traiçoeira e a avezinha, grata pela ajuda e protecção do Menino não mais deixou de agradecer e louvar o seu protector através da melodia do seu canto maravilhoso.

Pouco mais de uma semana após termos meditado na Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus e contemplado a dor de Nossa Senhora ao pés da cruz a receber nos seus braços o corpo inerte do seu amado Filho, vamos agora venerá-la como a Mãe amantíssima de um Deus feito criança, uma criança alegre, obediente e generosa que passeia pelos campos de Nazaré pela mão de São José, enquanto Maria anda atarefada na lida da casa. Nossa Senhora há-de apreciar de certeza que a celebremos juntamente com o seu Divino Filho e com S. José o seu santo esposo. Maio é o mês de Maria, o mês da mãe e das flores mas é também o mês da Família Sagrada. Louvemo-La.

Guilherme Duarte

(Artigo publicado no número de Maio de 2014 no jornal Cruz Alta)


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