quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

CRISE OU EMBUSTE


Estou cada vez mais convencido que a crise que atingiu Portugal e que se vai alastrando rapidamente a outros países da zona Euro não é só resultado da incompetência, da irresponsabilidade e da corrupção dos políticos inaptos e incompetentes que têm governado o país nos últimos 15 anos mas há fortes suspeitas, (para muitos serão mesmo certezas), de ter sido também deliberadamente  provocada pela alta finança internacional e pelo grande capital, com a intenção de atacar as políticas sociais para beneficiar interesses privados e os direitos e regalias dos trabalhadores para fazer cair a pique o custo do trabalho e reduzir drasticamente o número de trabalhadores, facilitar os despedimentos e sobrecarregar e explorar os trabalhadores que mantêm o seu posto de trabalho. Esta situação em princípio parece ser altamente benéfica para o empresariado que vê substancialmente reduzidos os custos com a mão-de-obra e o consequente aumento dos lucros. Os políticos esfregaram as mãos de contentes pois viram na crise a oportunidade de reduzirem os custos da acção social do Estado, cortando apoios e subsídios, reduzindo as despesas com o Serviço Nacional de Saúde à custa da qualidade e quantidade de serviços prestados. Escolheram um bode expiatório, ou dois, e assestaram as armas contra a função pública, contra os reformados e pensionistas espoliando-os de verbas a que têm direito porque descontaram para elas durante toda uma vida de trabalho apesar do Primeiro-Ministro deste país ter vindo a público que os reformados estão a receber verbas a que não têm direito porque não descontaram para elas. Sua excelência estaria certamente a referir-se aos políticos e às subvenções e reformas milionárias que continua a conceder generosamente, a fazer fé nas notícias que frequentemente são veiculadas pela comunicação social e que nunca foram desmentidas. Mas voltando à função pública. Alega-se, e acredito que possa ser verdade, que existam funcionários públicos em número muito superior aos necessários mas ninguém vem dizer claramente porquê. Eles não dizem, mas digo eu. Há funcionários públicos a mais porque após o golpe de 25 de Abril de 1974 todos os partidos que têm passado pelos diversos governos, Partido Comunista incluído, nos tempos loucos do PREC), usaram a função pública para encaixar milhares de prosélitos seus. Li em tempos que em 1974 havia cerca de 350.000 funcionários públicos. Hoje existem, ao que se diz, cerca de 700.000. Serão os trabalhadores da função pública culpados desta situação? Não. Os culpados foram os governantes que criaram esta situação escandalosa que sempre encararam as finanças públicas como uma fonte inesgotável. O resultado está à vista. É tremendamente injusto estar a fazer guerra a quem não contribuiu em nada para a falência deste país quando os verdadeiros culpados não sofrem cortes nos seus vencimentos chorudos nem nas escandalosas mordomias de que usufruem numa atitude que só podemos interpretar como uma intolerável provocação a todo um povo que está a ser espoliado. Temos actualmente um milhão de desempregados mas esse drama parece não tirar o sono aos nossos políticos estejam eles no governo ou na oposição.

Há poucas semanas uma das minhas netas foi com a escola fazer uma visita de estudo à Assembleia da República. (os alunos dessa escola devem ter-se portado muito mal para serem castigados com tamanha severidade). Ao fim do dia, depois de ter regressado a casa perguntei-lhe o que tinha visto e o que aprendeu naquela visita. A resposta foi pronta e foi assim “- Avô os deputados passaram o tempo a falar de crise mas cá fora, estacionados, só víamos um fartão de carros de luxo, Mercedes, BMW.s e Audis todos eles de gama alta. Reparei também que haviam imensos lugares vagos nas bancadas dos partidos e que enquanto um deputado discursava, alguns deles andava no Facebook. São estes os exemplos edificantes que os nossos deputados que vivem à custa do dinheiro dos portugueses dão aos nossos jovens que vão visitar o Parlamento que devia ser a casa da democracia, da dignidade, de seriedade e do serviço a favor do povo e da nação.

Enquanto o governo desumano sobrecarrega os funcionários públicos e os reformados com cortes de ordenado e com taxas e mais taxas, e os portugueses em geral com aumentos brutais de impostos estes senhores continuam, sem o mínimo pudor, a viver à grande e à francesa e a esbanjar os dinheiros públicos em luxos totalmente indecorosos numa nação completamente falida.


Guilherme Duarte

(Texto que publiquei no jornal Cruz Alta em Julho de 2014)

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