Estou cada vez mais
convencido que a crise que atingiu Portugal e que se vai alastrando rapidamente
a outros países da zona Euro não é só resultado da incompetência, da irresponsabilidade
e da corrupção dos políticos inaptos e incompetentes que têm governado o país
nos últimos 15 anos mas há fortes suspeitas, (para muitos serão mesmo
certezas), de ter sido também deliberadamente provocada pela alta finança internacional e
pelo grande capital, com a intenção de atacar as políticas sociais para
beneficiar interesses privados e os direitos e regalias dos trabalhadores para
fazer cair a pique o custo do trabalho e reduzir drasticamente o número de
trabalhadores, facilitar os despedimentos e sobrecarregar e explorar os
trabalhadores que mantêm o seu posto de trabalho. Esta situação em princípio parece
ser altamente benéfica para o empresariado que vê substancialmente reduzidos os
custos com a mão-de-obra e o consequente aumento dos lucros. Os políticos
esfregaram as mãos de contentes pois viram na crise a oportunidade de reduzirem
os custos da acção social do Estado, cortando apoios e subsídios, reduzindo as
despesas com o Serviço Nacional de Saúde à custa da qualidade e quantidade de
serviços prestados. Escolheram um bode expiatório, ou dois, e assestaram as
armas contra a função pública, contra os reformados e pensionistas
espoliando-os de verbas a que têm direito porque descontaram para elas durante
toda uma vida de trabalho apesar do Primeiro-Ministro deste país ter vindo a
público que os reformados estão a receber verbas a que não têm direito porque
não descontaram para elas. Sua excelência estaria certamente a referir-se aos
políticos e às subvenções e reformas milionárias que continua a conceder generosamente,
a fazer fé nas notícias que frequentemente são veiculadas pela comunicação
social e que nunca foram desmentidas. Mas voltando à função pública. Alega-se,
e acredito que possa ser verdade, que existam funcionários públicos em número
muito superior aos necessários mas ninguém vem dizer claramente porquê. Eles
não dizem, mas digo eu. Há funcionários públicos a mais porque após o golpe de
25 de Abril de 1974 todos os partidos que têm passado pelos diversos governos, Partido
Comunista incluído, nos tempos loucos do PREC), usaram a função pública para
encaixar milhares de prosélitos seus. Li em tempos que em 1974 havia cerca de
350.000 funcionários públicos. Hoje existem, ao que se diz, cerca de 700.000.
Serão os trabalhadores da função pública culpados desta situação? Não. Os
culpados foram os governantes que criaram esta situação escandalosa que sempre
encararam as finanças públicas como uma fonte inesgotável. O resultado está à
vista. É tremendamente injusto estar a fazer guerra a quem não contribuiu em
nada para a falência deste país quando os verdadeiros culpados não sofrem
cortes nos seus vencimentos chorudos nem nas escandalosas mordomias de que
usufruem numa atitude que só podemos interpretar como uma intolerável provocação
a todo um povo que está a ser espoliado. Temos actualmente um milhão de
desempregados mas esse drama parece não tirar o sono aos nossos políticos
estejam eles no governo ou na oposição.
Há poucas semanas uma das
minhas netas foi com a escola fazer uma visita de estudo à Assembleia da
República. (os alunos dessa escola devem ter-se portado muito mal para serem
castigados com tamanha severidade). Ao fim do dia, depois de ter regressado a
casa perguntei-lhe o que tinha visto e o que aprendeu naquela visita. A
resposta foi pronta e foi assim “- Avô os deputados passaram o tempo a falar de
crise mas cá fora, estacionados, só víamos um fartão de carros de luxo,
Mercedes, BMW.s e Audis todos eles de gama alta. Reparei também que haviam
imensos lugares vagos nas bancadas dos partidos e que enquanto um deputado
discursava, alguns deles andava no Facebook. São estes os exemplos edificantes
que os nossos deputados que vivem à custa do dinheiro dos portugueses dão aos
nossos jovens que vão visitar o Parlamento que devia ser a casa da democracia,
da dignidade, de seriedade e do serviço a favor do povo e da nação.
Enquanto o governo desumano
sobrecarrega os funcionários públicos e os reformados com cortes de ordenado e
com taxas e mais taxas, e os portugueses em geral com aumentos brutais de
impostos estes senhores continuam, sem o mínimo pudor, a viver à grande e à
francesa e a esbanjar os dinheiros públicos em luxos totalmente indecorosos
numa nação completamente falida.
Guilherme Duarte
(Texto que publiquei no jornal Cruz Alta em Julho de 2014)
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