Acontece que há situações
nas nossas vidas em que parece que o mudo vai desabar sobre as nossas cabeças.
Estes momentos difíceis, muitas vezes dramáticos outras até desesperados são
encarados de maneiras diferentes por cada pessoa que os vive. Há quem não se
conforme e lute corajosamente para vencer as dificuldades mas há quem, pelo
contrário se agacha e encolhe refugiando-se num dos cantinhos das suas casas, muito
quietos, calados e temerosos à espera que o que nos parece inevitável aconteça.
Entretanto alheiam-se de tudo aquilo que gostavam fazer e que os ajudava a
preencher uma parte das suas vidas. Deixam-se derrotar sem reagir nem lutar,
desistem do futuro e quantas vezes não desistem mesmo de viver. Num ápice, tudo
para eles deixou de fazer sentido. Sofrem e fazem sofrer quem os rodeia. Ficam
surdos aos os incitamentos e conselhos para reagir. Tudo deixou de fazer
sentido optam por passar a viver na penumbra de uma sala, com os olhos semicerrados,
estores corridos e luzes apagadas. Optámos por viver na escuridão. Afinal o
mundo não desabou ainda sobre nós e pode até ser que não mesmo ou que caia tão
depressa como tememos. É então que a depressão nos invade, nos tolhe e nos
transforma em algo parecido com essas figuras fantásticas e irreais a que
chamamos zombies, os mortos-vivos de acordo com o nos contam a suas histórias.
Neste caso há apenas uma pequena, (ou enorme), diferença. O zombies em que se
transformaram tomaram conta de nós mas não nos transformam em mortos-vivos mas
sim em vivos-mortos que neste caso, infelizmente são bem reais.
Tenho a noção de que este
texto que partilho com os nossos leitores neste número do nosso jornal é um
texto sombrio, derrotista e pessimista mas não foi escrito por acaso nem pelo
prazer de tentar deprimir ninguém, mas numa rubrica como esta em que escrevo ao
correr da pena, foi o que me saiu e não me saiu assim por acaso mas porque foi
o único tema que consegui abordar por estar a viver um momento semelhante. Há
algumas semanas atrás eu nem este texto conseguiria escrever. Graças a Deus,
levantei-me lentamente, abandonei o cantinho onde me refugiara, abri os
estores, acendi luzes e longe ainda da recuperação total já consigo conversar
sobre o assunto e reconheço o enorme erro que cometi. Não estou a recuperar o
gosto pela vida, sozinho. Ninguém o consegue sem ajuda e a mim essa ajuda não
tem faltado. Agora já consigo ver de novo o sol, um sol ainda pálido, digamos
que um sol de inverno.
Não publico este texto para
suscitar compaixão a quem quer que seja, mas porque a minha reacção perante a
adversidade que me atingiu foi completamente errada. Não soube ser corajoso e
comportei-me até como um cobarde. Fiquei agora a saber, se algumas dúvidas eu
tivesse, que não fui talhado para herói. Que pretendo eu com a publicação deste
texto sombrio no nosso jornal? Apenas que devemos enfrentar com coragem,
determinação e muita luta, os momentos difíceis das nossas vidas. Nem sempre
quando o mundo parece desabar sobre nós isso vai acontecer. Não nos deixemos
transformar em zombies. Eu deixei e não gostei nada da experiência.
Guilherme Duarte
( Texto publicado no jornal Cruz Alta)
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