quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

OS ZOMBIES



Acontece que há situações nas nossas vidas em que parece que o mudo vai desabar sobre as nossas cabeças. Estes momentos difíceis, muitas vezes dramáticos outras até desesperados são encarados de maneiras diferentes por cada pessoa que os vive. Há quem não se conforme e lute corajosamente para vencer as dificuldades mas há quem, pelo contrário se agacha e encolhe refugiando-se num dos cantinhos das suas casas, muito quietos, calados e temerosos à espera que o que nos parece inevitável aconteça. Entretanto alheiam-se de tudo aquilo que gostavam fazer e que os ajudava a preencher uma parte das suas vidas. Deixam-se derrotar sem reagir nem lutar, desistem do futuro e quantas vezes não desistem mesmo de viver. Num ápice, tudo para eles deixou de fazer sentido. Sofrem e fazem sofrer quem os rodeia. Ficam surdos aos os incitamentos e conselhos para reagir. Tudo deixou de fazer sentido optam por passar a viver na penumbra de uma sala, com os olhos semicerrados, estores corridos e luzes apagadas. Optámos por viver na escuridão. Afinal o mundo não desabou ainda sobre nós e pode até ser que não mesmo ou que caia tão depressa como tememos. É então que a depressão nos invade, nos tolhe e nos transforma em algo parecido com essas figuras fantásticas e irreais a que chamamos zombies, os mortos-vivos de acordo com o nos contam a suas histórias. Neste caso há apenas uma pequena, (ou enorme), diferença. O zombies em que se transformaram tomaram conta de nós mas não nos transformam em mortos-vivos mas sim em vivos-mortos que neste caso, infelizmente são bem reais.

Tenho a noção de que este texto que partilho com os nossos leitores neste número do nosso jornal é um texto sombrio, derrotista e pessimista mas não foi escrito por acaso nem pelo prazer de tentar deprimir ninguém, mas numa rubrica como esta em que escrevo ao correr da pena, foi o que me saiu e não me saiu assim por acaso mas porque foi o único tema que consegui abordar por estar a viver um momento semelhante. Há algumas semanas atrás eu nem este texto conseguiria escrever. Graças a Deus, levantei-me lentamente, abandonei o cantinho onde me refugiara, abri os estores, acendi luzes e longe ainda da recuperação total já consigo conversar sobre o assunto e reconheço o enorme erro que cometi. Não estou a recuperar o gosto pela vida, sozinho. Ninguém o consegue sem ajuda e a mim essa ajuda não tem faltado. Agora já consigo ver de novo o sol, um sol ainda pálido, digamos que um sol de inverno.

Não publico este texto para suscitar compaixão a quem quer que seja, mas porque a minha reacção perante a adversidade que me atingiu foi completamente errada. Não soube ser corajoso e comportei-me até como um cobarde. Fiquei agora a saber, se algumas dúvidas eu tivesse, que não fui talhado para herói. Que pretendo eu com a publicação deste texto sombrio no nosso jornal? Apenas que devemos enfrentar com coragem, determinação e muita luta, os momentos difíceis das nossas vidas. Nem sempre quando o mundo parece desabar sobre nós isso vai acontecer. Não nos deixemos transformar em zombies. Eu deixei e não gostei nada da experiência.  

Guilherme Duarte

( Texto publicado no jornal Cruz Alta)


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