Um
pinheirinho natural decorado com algumas bolas coloridas, com sinos, figuras de
anjos, fios prateados e dourados, e pedacinhos de algodão a imitar a neve. Eram
assim as árvores de Natal há cerca de sessenta ou setenta anos. Não havia
luzinhas a piscar nem presentes colocados debaixo da árvore embrulhados em
bonitos papeis lustrosos decorados com vistosos laços coloridos, mas havia sim
um presépio simples construído com musgo, uma cabana rudimentar, areia a traçar
o caminho até ao Menino e uma prata branca de embrulhar chocolates a imitar um
lago. Espalhados pelo musgo, pequenas e simples figuras em gesso colorido. O
Menino deitado numas palhinhas, Nossa Senhora, S. José, os reis magos pastores
e algumas ovelhas. Não podiam faltar a vaquinha e o burrinho, uma estrela e um
anjo.
Nas
ruas não haviam iluminações natalícias mas nas lojas cada comerciante reservava
na sua montra um cantinho para montar o presépio, uns mais simples outros um
pouco mais elaborados mas todos construídos com amor e devoção. Não posso
deixar de recordar um desses presépios que ano após ano tinha fazia amontoar frente
à montra grande número de pessoas, especialmente crianças que ficavam fascinados
com a sua grandiosidade. Era na loja do Sr. Maurício no Largo da Estefânea. Um
presépio que ocupava toda a montra, um presépio onde movimento, havia, água a
correr, cascatas, moinhos e repuxos. Dentro da loja uma bancada comprida
repleta de brinquedos que faziam o encanto da pequenada. Na véspera de Natal a
pastelaria Ideal, ali em frente, tinha também ela uma mesa comprida coberta de
deliciosos bolos-reis, os melhores de Sintra, fabricados na fábrica de
queijadas do Gregório. Cada fornada que chegava esgotava-se rapidamente. O Sr.
Álvaro Ribeiro e a esposa, proprietários da referida pastelaria não tinham
nesse dia mãos a medir.
Não
havia nesse tempo nem computadores, nem telemóveis e consequentemente não havia
também emails e SMS,s. Havia sim bonitos cartões de boas festas decorados com
motivos natalícios que se mandavam pelo correio para os amigos e familiares que
moravam longe. Nas ruas as pessoas cumprimentavam-se cordialmente e os votos de
festas felizes, de saúde e de paz saíam do coração e não eram uma mera
formalidade proferida maquinalmente apenas da boca para fora sem serem efectivamente
sentidos. Não havia luz nas ruas mas havia, isso sim, calor no coração das
pessoas. Também não havia ainda aquele velho gordo de barbas brancas vestido de
vermelho a deslocar-se num trenó puxado por renas e cheio de sacos com
presentes para distribuir às crianças. Nessa altura era o Menino Jesus que
descia pelas chaminés para colocar nos sapatinhos ali cuidadosamente deixados
pela miudagem os presentes para cada um. Nem sempre, ou quase nunca, todos os
pedidos eram satisfeitos na íntegra mas na manhã no dia de natal quando
corríamos para a chaminé e víamos os presentes ficávamos imensamente felizes.
As
músicas natalícias eram quase permanentemente tocadas nas várias estações de
rádio e tudo acontecia com o Deus Menino deitado numa manjedoura no pensamento.
de todos. Eram Natais vividos modestamente porque os recursos financeiros eram
escassos mas eram Natais vividos intensamente, com alegria, solidariedade e
amor. Nada disso acontece nos dias de hoje onde os centros comerciais
substituíram o presépio e o velho gordo de barbas brancas substituiu o Menino
Jesus. Fico triste que assim seja e quero o antigo Natal de volta ,aquele Natal
em que:.
Na árvore há brilho, há luz
e magia,
No presépio há uma mensagem de amor,
Nos corações há ternura e calor,
À mesa, a tristeza de uma cadeira vazia.
No presépio há uma mensagem de amor,
Nos corações há ternura e calor,
À mesa, a tristeza de uma cadeira vazia.
Tenho saudade dos Natais de outrora
Quando o Rei do Natal era o Menino Jesus,
O Menino que nasceu numa gruta fria e sem luz
E descansa sereno nos braços de Nossa Senhora.
Quando o Rei do Natal era o Menino Jesus,
O Menino que nasceu numa gruta fria e sem luz
E descansa sereno nos braços de Nossa Senhora.
Em que é o homem
transformou o Natal?
Substituiu o Menino por um velho irreal,
E virou as costas à gruta em Belém
Substituiu o Menino por um velho irreal,
E virou as costas à gruta em Belém
Ignorou o presépio e a
Família Sagrada
A alma invadida por um monte de nada
E o Menino ficou só, nos braços da Mãe.
A alma invadida por um monte de nada
E o Menino ficou só, nos braços da Mãe.
Guilherme Duarte
(Texto publicado no nº de janeiro de 2015 do jornal Cruz Alta)
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