sábado, 28 de fevereiro de 2015

QUANDO O HORIZONTE SE ENCURTA

                      
Quando a idade e/ou a doença avançam encurta-se o horizonte e o caminho que nos falta percorrer na vida. Perante a ausência de perspectivas futuras temos a tendência de olhar para trás e deixar que os nossos pensamentos se estendam pela vastidão do passado e através das recordações voltar a percorrer o longo caminho já trilhado ao longo de muitos anos. Quando o futuro já pouco ou nada tem para nos oferecer e já não há tempo nem vontade para acalentar novos sonhos ou estabelecer objectivos, é no passado que nos refugiamos. Procuramos combater a angústia do presente recordando momentos felizes de antanho. Revisitamos enternecidos a nossa infância já tão longínqua, recordamos a ternura, o carinho e o amor que os nossos pais nos dispensaram, relembramos os nossos velhos brinquedos, as brincadeiras favoritas, o primeiro dia de escola, os professores que nos ajudaram a crescer no conhecimento e no saber, antigos colegas que perdemos de vista, uns devido a contingências da vida, outros porque que partiram prematuramente e já não estão entre nós. Nostálgicos, revivemos a infância dos nossos filhos e netos e deixamos que os olhos se nos humedeçam ao folhear os velhos álbuns de fotografias que nos levam a viajar no tempo e a reviver anos que se perderam já na poalha do tempo. As recordações e a saudade são o escudo atrás do qual nos defendemos do desespero causado pela nossa fragilidade e impotência para alterar o destino e vencer o inevitável.
O facto de ter estado a tecer estas considerações no plural não significa que eu pense que todos os idosos ou doentes se comportam desta forma. A verdade é que há quem seja capaz de viver a velhice com optimismo, com entusiamo e que não desista de acreditar no futuro e há também quem se recuse a deitar a toalha ao chão e lute denodadamente contra a doença por muito grave que ela seja. Gostaria muito de ser capaz de o fazer também mas a minha falta de coragem, direi mesmo que cobardia, conduz-me à desmotivação e ao fatalismo. Olho para a frente e só vejo nuvens negras sem vislumbrar um raiozinho de sol, por muito pequeno que seja, por isso sou daqueles que opta por olhar para trás, recordar o passado e deixar-me invadir pela saudade. Gostaria de percorrer o caminho que me falta, com paz e tranquilidade, e com a certeza que o futuro daqueles que amo e que irei deixar quando desaparecer no horizonte será risonho e tranquilo, mas a realidade é diferente e bem mais inquietante. Temos uma nação mergulhada numa crise profunda provocada por políticos incapazes, principescamente pagos para servir o país mas que, pelo contrário, apenas se preocuparam e preocupam em servir-se dele e beneficiar de regalias e privilégios verdadeiramente escandalosos. A corrupção e oportunismo de uns quantos, o enriquecimento ilícito de outros tantos e o empobrecimento progressivo do povo que tem vindo a ser sacrificado e espoliado dos seus direitos por governantes insensíveis e desprovidos de qualquer sentido de humanidade, um país falido e descredibilizado, um povo caído na pobreza e um futuro comprometido são a pesada herança desta geração de políticos de aviário.
Um país sem futuro, o drama do desemprego que a minha filha está a viver e a incerteza do futuro das minhas netas, não me permitirão percorrer o caminho que me falta e atravessar a linha do horizonte com a serenidade que desejava. Se Deus não vier em meu auxílio estarei condenado a fazê-lo invadido por uma tremenda angústia. Não é assim que eu gostaria de partir. Entretanto vou continuar a reviver o passado enquanto Deus o permitir.


Guilherme Duarte

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

SE NÓS QUISERMOS, NÓS PODEMOS

  
Dediquei o Foto-Comentário deste mês à CANAFERRIM – Associação Cívica e Cultural, recentemente criada com o obectivo de defender Sintra e colaborar com o poder autárquico no sentido de encontrar soluções para resolver os muitos problemas que afectam a nossa terra. Ao iniciar este artigo pensei que seria interessante recordar aos nossos leitores que também na nossa Unidade Pastoral existe uma associação cultural criada há poucos anos com a finalidade de fazer dela um instrumento dinamizador de realizações culturais e lúdicas que ajudem a difundir os valores cristãos no seio da nossa comunidade. Estou a referir-me à CRUZ ALTA – Associação Cultural Cristã de Sintra cuja direcção é presidida naturalmente pelo nosso pároco padre Armindo Reis.

Para utilizar um termo actualmente muito em voga esta associação foi pensada para ser mais uma ferramenta posta à disposição dos responsáveis da UPS para os ajudar nas diversas actividades ligadas à cultura e ao lazer. Responsável pela gestão do nosso jornal Cruz Alta, a associação está longe de ter conseguido alcançar todos os propósitos que estiveram na génese da sua criação. Esta afirmação poderá levar alguém a pensar que a “CRUZ ALTA – Associação Cultural Cristã de Sintra” é um projecto fracassado. Nada mais errado. Esta associação cultural não é um fracasso mas sim um sonho que não foi ainda cumprido na sua totalidade mas que o será se houver pessoas com ideias, com tempo e vontade que queiram ajudar a direcção a concretizar esse sonho. Acreditem que há muita coisa que pode ser feita. A nossa comunidade é numerosa e culturalmente rica. Existem de certeza inúmeras pessoas com muito talento nos vários ramos das artes, seja na música, na literatura, no canto, no desenho e pintura, na fotografia, na representação, no artesanato e em tantas outras manifestações artísticas. Se tivermos a felicidade de podermos contar com o apoio e a colaboração de todas essas pessoas tenho a certeza de que o sonho será cumprido e a associação poderá dar um contributo decisivo para divulgar tantos artistas desconhecidos e de valor que se encontram no meio de nós.

Exposições de pintura e fotografia, representações teatrais, actuação de conjuntos musicais, e grupos corais, projecção de filmes como já aconteceu num passado não muito longínquo, a dinamização da biblioteca que nunca funcionou, realização de rallyes paper, palestras sobre Sintra e a sua história e mais um sem número de iniciativas que iriam seguramente atrair a atenção da comunidade. Os almoços janela poderiam ser mais participados se a ele se seguissem algumas sessões de animação cultural o lúdica. As ideias existem, existe espaço mas falta o essencial, as pessoas com vontade de fazer algo de novo. A actual direcção, sozinha, pouco ou nada poderá fazer dado o número reduzido de pessoas que a integram e o trabalho que já têm em diversas actividades pastorais, isto para além da edição do jornal Cruz Alta que ocupa muito tempo à maioria dos directores da associação.

Devo dizer que ninguém me encomendou este sermão e não sei sequer se todos os meus colegas estarão de acordo com o que acabo de escrever mas este é um espaço onde me é permitido dar largas à minha imaginação, aos meus pensamentos e aos meus sonhos e foi assim que eu sonhei esta associação. Acredito que não estou sozinho nesse sonho, um sonho que é perfeitamente viável se todos estivermos interessados realizá-lo. Não haverá por aí artistas que se queiram mostrar ou pessoas com dinamismo e espírito de iniciativa? É evidente que tal como o trabalho da CANAFERRIM não terá resultados imediatos, também este sonho precisará de tempo para ser cumprido na sua totalidade. Se atrás deste sonho outros sonhos surgirem será sinal de que a nossa associação estará bem viva. Não há limites para sonhar. Nem para fazer. Não há limites para a criatividade, só para o querer..


Guilherme Duarte

(Artigo publicado na edição de FEvº 2015 do jornal Cruz Alta"

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

QUERO DE VOLTA O MEU NATAL DE CRIANÇA

                
    Um pinheirinho natural decorado com algumas bolas coloridas, com sinos, figuras de anjos, fios prateados e dourados, e pedacinhos de algodão a imitar a neve. Eram assim as árvores de Natal há cerca de sessenta ou setenta anos. Não havia luzinhas a piscar nem presentes colocados debaixo da árvore embrulhados em bonitos papeis lustrosos decorados com vistosos laços coloridos, mas havia sim um presépio simples construído com musgo, uma cabana rudimentar, areia a traçar o caminho até ao Menino e uma prata branca de embrulhar chocolates a imitar um lago. Espalhados pelo musgo, pequenas e simples figuras em gesso colorido. O Menino deitado numas palhinhas, Nossa Senhora, S. José, os reis magos pastores e algumas ovelhas. Não podiam faltar a vaquinha e o burrinho, uma estrela e um anjo.

Nas ruas não haviam iluminações natalícias mas nas lojas cada comerciante reservava na sua montra um cantinho para montar o presépio, uns mais simples outros um pouco mais elaborados mas todos construídos com amor e devoção. Não posso deixar de recordar um desses presépios que ano após ano tinha fazia amontoar frente à montra grande número de pessoas, especialmente crianças que ficavam fascinados com a sua grandiosidade. Era na loja do Sr. Maurício no Largo da Estefânea. Um presépio que ocupava toda a montra, um presépio onde movimento, havia, água a correr, cascatas, moinhos e repuxos. Dentro da loja uma bancada comprida repleta de brinquedos que faziam o encanto da pequenada. Na véspera de Natal a pastelaria Ideal, ali em frente, tinha também ela uma mesa comprida coberta de deliciosos bolos-reis, os melhores de Sintra, fabricados na fábrica de queijadas do Gregório. Cada fornada que chegava esgotava-se rapidamente. O Sr. Álvaro Ribeiro e a esposa, proprietários da referida pastelaria não tinham nesse dia mãos a medir.

Não havia nesse tempo nem computadores, nem telemóveis e consequentemente não havia também emails e SMS,s. Havia sim bonitos cartões de boas festas decorados com motivos natalícios que se mandavam pelo correio para os amigos e familiares que moravam longe. Nas ruas as pessoas cumprimentavam-se cordialmente e os votos de festas felizes, de saúde e de paz saíam do coração e não eram uma mera formalidade proferida maquinalmente apenas da boca para fora sem serem efectivamente sentidos. Não havia luz nas ruas mas havia, isso sim, calor no coração das pessoas. Também não havia ainda aquele velho gordo de barbas brancas vestido de vermelho a deslocar-se num trenó puxado por renas e cheio de sacos com presentes para distribuir às crianças. Nessa altura era o Menino Jesus que descia pelas chaminés para colocar nos sapatinhos ali cuidadosamente deixados pela miudagem os presentes para cada um. Nem sempre, ou quase nunca, todos os pedidos eram satisfeitos na íntegra mas na manhã no dia de natal quando corríamos para a chaminé e víamos os presentes ficávamos imensamente felizes.

As músicas natalícias eram quase permanentemente tocadas nas várias estações de rádio e tudo acontecia com o Deus Menino deitado numa manjedoura no pensamento. de todos. Eram Natais vividos modestamente porque os recursos financeiros eram escassos mas eram Natais vividos intensamente, com alegria, solidariedade e amor. Nada disso acontece nos dias de hoje onde os centros comerciais substituíram o presépio e o velho gordo de barbas brancas substituiu o Menino Jesus. Fico triste que assim seja e quero o antigo Natal de volta ,aquele Natal em que:.

Na árvore há brilho, há luz e magia,
No presépio há uma mensagem de amor,
Nos corações há ternura e calor,
À mesa, a tristeza de uma cadeira vazia.
Tenho saudade dos Natais de outrora
Quando o Rei do Natal era o Menino Jesus,
O Menino que nasceu numa gruta fria e sem luz
E descansa sereno nos braços de Nossa Senhora.
Em que é o homem transformou o Natal?
Substituiu o Menino por um velho irreal, 
E virou as costas à gruta em Belém
Ignorou o presépio e a Família Sagrada 
A alma invadida por um monte de nada
E o Menino ficou só, nos braços da Mãe.

Guilherme Duarte

(Texto publicado no nº de janeiro de 2015 do jornal Cruz Alta)


domingo, 11 de janeiro de 2015

OS SEM ABRIGO



Perdidos no mundo,
Vagabundos da vida,
Cidadãos do nada,
Não sabem onde estão,
Não sabem o que querem,
Nem sequer para onde vão.
Desconfiados dos homens
E descrentes de si
Vagueiam  nas ruas,
Invisíveis,
Entre muitos outros perdidos no mundo.
Olham e não vêm ninguém,
Olham-nos, e ninguém os vê.
Pressentem apenas a presença dos outros
Pelos encontrões que lhes dão.

Que fizemos ao mundo ?
Que mundo criámos?
Apenas um mundo à imagem daquilo
Em que se tornou o homem .
Um mundo vilão.


Guilherme Duarte

sábado, 3 de janeiro de 2015

A BANHA DA COBRA


                                    
Os indivíduos bem-falantes e com muita prosápia deixam-me sempre de pé atrás. Não me estou, evidentemente, a referir àquelas pessoas que têm o dom da palavra, que se exprimem com facilidade, fazem questão de falar um português correcto e fluente e são capazes de abordar e expor qualquer assunto de forma clara, objectiva e atractiva. Essas pessoas são por norma excelentes conversadores com quem dá gosto dialogar, pessoas que merecem a minha admiração e me chegam mesmo a provocar uma pontinha de inveja por não ter sido dotado com o mesmo dom que eles. Essa inveja no entanto não é uma inveja perversa as compreensível e desculpável porque tem a var apenas com a minha incapacidade e nunca com a capacidade alheia. É verdade que gostava de ser mais fluente no meu discurso da mesma forma que gostava de ser capaz de pegar num lápis e com meia dúzia de traços fazer lindos desenhos. De quem eu desconfio mesmo é dos “papagaios”, daqueles que utilizam a os seus dotes oratórios para nos enganar. A história ensina-nos que a maioria dos ladrões e vigaristas mais famosos eram pessoas encantadoras que se insinuavam pela sua verve fácil e modos cavalheirescos para depois aplicar implacavelmente os seus golpes. Costumo dizer, por graça, que quando me cruzo com algum desses “papagaios” bem-falantes levo de imediato a mão ao bolso para ver se a carteira ainda lá está.

Ao escrever estas linhas estou a lembrar-me de uns quantos políticos que lançam mão da sua fluência oratória para enganar e confundir o povo. Quando sobem a um palco ou a um palanque e lhe põem um microfone à frente, os homens transfiguram-se, entusiasmam-se e desatam a “berrar”, como se os gritos tornem mais credível a demagogia com que pretendem enganar o pagode. O que me deixa estupefacto é que essa gritaria do orador ainda consegue empolgar os assistentes que por sua vez respondem gritando, também eles, slogans balofos e mais que estafados que não passam de mero folclore.

Esses discursos inflamados e mentirosos fazem-me recordar uma figura castiça que nos meus tempos de criança costumava animar a feira de S. Pedro, com a sua voz rouca e levemente avinhada a anunciar uma pomada milagrosa que curava todos os males do corpo. Desde a ponta dos cabelos até aos dedos dos pés não havia maleita que a tal pomada não curasse. O homem terminava sempre o seu discurso com a mesma tirada humorística. Dizia ele que quem usasse essa pomada não precisaria nunca de injecções para nada e que para ele, injecções, só do Cartaxo. No fundo, continuava a falar de pomada. No final da sua exposição iniciava a venda das caixas com a tal pomadinha milagrosa por entre as muitas pessoas que sempre o rodeavam. Era o tradicional vendedor da banha da cobra que na época era frequente encontrar nas feiras e romarias do nosso país.
Com o passar dos anos estas figuras típicas foram desaparecendo mas a banha da cobra continua a existir. Não acabou, apenas mudou de cara. Hoje já não se trata de uma simples e inofensiva mezinha vendida nas feiras mas de discursos enganadores de vendedores de ilusões. Os vendedores também não são já aqueles homens simples, muitos deles rudes e quase analfabetos. Hoje são políticos, quase todos eles com formação académica superior que têm a perfeita noção do logro em que querem fazer cair os portugueses. A pergunta que se,impõe é a seguinte: que diferença existe entre publicitar e tentar vender uma pomada alegadamente milagrosa que cura todos os males e tentar angariar votos através de promessas demagógicas que não há a menor intenção de cumprir? Eu não consigo ver qualquer diferença, antes pelo contrário, vejo sim algumas semelhanças. Ambos são mentirosos e ambos pretendem tirar lucro enganando as pessoas. Só que uns, os antigos se limitavam a vender uma pomada inócua que se não fazia bem também não fazia mal a ninguém. Os novos, esses são muito mais perigosos porque pretendem o poder a qualquer custo e que uma vez conquistado são capazes de arruinar um povo e uma nação. A situação actual deste país é a prova do que acabo de afirmar. Afinal sempre consigo encontrar uma diferença entre estes dois tipos de charlatões Os antigos tinham sentido de humor e faziam-nos rir, os novos só nos fazem sofrer e chorar.

Guilherme Duarte

(Artigo publicado no nº de Outº 2014 do jornal Cruz Alta)


quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

OS PRETENSOS FAZEDORES DE OPINIÃO


Desde criança que me habituei a olhar com atenção para tudo o que me rodeia. Não consigo viver alheado do mundo, nem das pessoas, embora cada vez goste menos daquilo que ouço e observo. Podia assobiar para o lado, olhar para o ar e ignorar toda a “porcaria” com que diariamente me cruzo? Podia, mas não sou capaz. Por isso me irrito e revolto tantas vezes e por tantos motivos. É certo que sou intolerante com comportamentos incivilizados e faltas de educação e de respeito, mas sou saloio e como saloio que me prezo de ser, não consigo, nem quero, ser dissimulado nem hipócrita. Se alguma qualidade os saloios têm, e têm muitas, uma delas é a da franqueza e da frontalidade.

Já me desviei um pouco do tema da minha conversa de hoje que tem a ver com a necessidade que todos nós devemos sentir de reservarmos diariamente alguns minutos para dedicarmos à reflexão, mas este é também um espaço aberto à divagação. Não estranhe o leitor se, como se  diz popularmente, eu comece estas conversas a falar “em alhos para acabar a falar em bogalhos”. Não vejo qualquer incoveniente nesta dispersão do pensamento desde que siga uma linha lógica de raciocínio.  Como disse ao começar esta conversa, sou um observador atento do mundo em que vivo e quer-me parecer que anda por aí um mal que se tem vindo a propagar quase sem darmos por isso, chama-se preguiça mental e é provocada em grande parte pelo ritmo alucinante que a vida actualmente nos impõe. O acto de pensar e reflectir é um exercício fundamental para exercitar a nossa agilidade mental e a inteligência e impedi-la de ficar preguiçosa. É verdade que há demasiadas solicitações no nosso dia a dia que nos ocupam tempo, nos distraiem e nos fazem esquecer a necessidade de pensar.  Pensar ocupa tempo e exige concentração. Pensar dá trabalho, mas é um trabalho que nos valoriza, que nos faz crescer, dá-nos uma maior capacidade de análise, fortalece as nossas convicções e torna-nos mais confiantes e mais seguros para defendermos os nossos valores e os nossos ideais e torna-nos ainda menos vulneráveis a ideias e formas de pensar diferentes das nossas com que tantas vezes somos confrontados e que nos pretendem impôr..

Quando nos recusamos a seguir a opinião alheia que nada tem a ver com a nossa e mantemos com firmeza a nossa própria opinião é frequente atirarem-nos à cara com a célebre frase de que “só os burros é que não mudam”. Eu costumo responder a este argumento falacioso e ofensivo afirmando que burro será quem muda de opinião sem um fundamento sólido e só porque os outros querem. Deus deu-nos a faculdade de pensar e a inteligência, para podermos ser livres e tomarmos as nossas próprias decisões e não para que deixemos que os outros pensem por nós. Claro que as podemos mudar mas sempre como resultado inequívoco do nosso pensar, do nosso sentir, do nosso raciocínio e clarividência, e nunca porque os outros nos querem obrigar a fazê-lo.
 Vem esta conversa a propósito de uma campanha lançada pelos responsáveis pelo jornal “Expresso” para publicitar a comemoração do seu quadragésimo aniversário. Afirmam eles com orgulho que há quarenta anos que o “Expresso” anda a FAZER a opinião dos portugueses. Incomoda-me esta afirmação e incomoda-me mais ainda porque penso que existe nela alguma ponta de verdade. Acredito que há uma percentagem significativa de portugueses cujas opiniões sobre política e sobre muitas outras matérias não são mais que um “upload” das opiniões dos comentadores que lêm nos jornais ou ouvem nas televisões. Tomam por verdades absolutas todas as afirmações feitas pelos vários jornalistas e comentadores sem muitas vezes saberem quem eles são, que qualificações têm, que ideologia defendem e quais os interesses que os movem. Na vida nem tudo é tão claro nem tão inocente como nos querem fazer crer.

Considero esta frase publicitária do jornal “Expresso” um atestado de menoridade aos seus leitores. Eu nunca permiti, nem  permitirei que a minha opinião seja FEITA  por nenhum orgão de comunicação social nem por nenhum jornalista ou comentador. Dos orgãos de comunicação social exijo apenas informação rigorosa, séria e verdadeira, que me habilite a ser eu a FAZER a minha própria opinião, direito de que não prescindo e que não delego em ninguém. É que como já disse, sou saloio, e se algum defeito os saloios têm, e terão talvez um ou outro, é o de serem desconfiados. É que, eles são saloios mas não são parvos.


Guilherme Duarte

(texto publicado no jornal Cruz Alta)

À CONVERSA COM O ANJO DA GUARDA


“Anjo da Guarda
Minha companhia
Guarda a minha alma
De noite e de dia.”

Foi assim que todos aprendemos, em miúdos, a rezar ao nosso Anjo da Guarda, mas  quantos de nós se lembrou alguma vez  de falar com ele, pôr-lhe os nossos problemas, dar-lhe conta das nossas dúvidas e das nossas inquietações, e tentar ouvir, ou perceber, as respostas que ele, certamente, não deixará de nos dar. Eu experimentei, e o resultado foi este:

- Anjo da Guarda, estás aí? Posso falar contigo?

- Claro que estou aqui. Eu estou sempre aqui e podes sempre falar comigo desde que queiras. Não sabias isso?

- Como havia eu de saber? Nunca te vi, nunca te ouvi, nem nunca dei pela tua existência..

- Sim eu sei, e é uma pena que nunca te tenhas apercebido da minha presença constante ao teu lado. Sabes que te acompanho desde que nasceste?.

- Já tinha ouvido dizer que todos nós tinhamos um  Anjo da Guarda, mas como nunca te vi, pensei que era apenas mais uma história, daquelas que se contam ás crianças para lhes estimular a imaginação. Sinceramente custa-me a acreditar que cada pessoa tenha um anjo da guarda só para si. Teria que haver uma legião interminável de anjos para guardar toda a gente.

- E há, claro que há,. Mais à frente vais perceber como.

- Mas porque é que nunca deste sinais da tua presença? Era muito mais fácil de acreditar, não era?

- Evidentemente que sim, mas também era demasiadamente fácil. Se eu estivesse visível a teu lado, te pegasse na mão e te conduzisse pelo caminho certo, não haveria nenhum mérito da tua parte, porque te limitavas a deixares-te conduzir, e Deus quer que sejas tu a escolher o teu caminho.

- Então se não me guias, se não me aconselhas o que é estás aqui a fazer?

-Não te guio, nem te aconselho? Quem foi que te disse uma coisa dessas?
- Acabaste de o dizer tu, não te lembras?
.
- Percebeste mal, eu só te disse que não te levava pela mão. Mas estou sempre a falar contigo, a aconselhar-te, a dizer-te o que deves ou não deves fazer, e por onde deves ir.

- Mas eu nunca te ouvi.

- Eu sei que não. Andas sempre tão atarefado com a tua vidinha que não tens tempo para parar um pouco,  concentrares-te, meditar e ouvir. Falas muito e escutas pouco, ou melhor, não escutas mesmo nada. Se estivesses atento e olhasses mais para dentro de ti, já há muito que me tinhas ouvido, e provavelmente não terias errado tanto..

- Está a dizer que eu só faço asneiras.?

- Eu falei em erros, mas tens feito asneiras sim senhor, e algumas delas bem grandes.

- Então porque deixaste que eu as fizesse? Não tinhas a obrigação de me impedir de as fazer?

- Não, não tinha. A minha tarefa é alertar-te quando estás a fazer uma escolha errada, e aconselhar-te sobre o caminho que deves seguir. Transmito-te aquilo que Deus gostaria que fizesses, mas a escolha será sempre tua.

-Então és o porta-voz de Deus
.
- Pode dizer-se que sim. O Senhor confiou-me a tarefa de te indicar o caminho que leva até Ele. Eu tento cumprir essa tarefa o melhor possível, mas tu não tens ajudado nada.

-Porquê? Sou assim tão pecador?

-O que é que achas? Estás contente contigo? Achas que não podias ser melhor? 

- Fazes tantas perguntas. Afinal quem tem motivo para perguntar sou eu.
.
- O que é que queres saber? 

- Como me falas tu? Telefonas-me ou sussuras-me ao ouvido?

- Não brinques porque estou a falar muito a sério. Para fazeres perguntas dessas mais vale ficares calado. Já ouviste falar em consciência?

-Claro que sim, porquê?

-Eu sou a tua consciência, falo-te através dela, mas tu a maior parte das vezes parece que desligas o botão, como quem desliga o rádio ou a televisão quando o programa não está a agradar.

-E?

-E depois fazes asneira, claro.

-Bem, a conversa está muito agradável mas estou perdido de sono e vou dormir. Falamos  de novo amanhã pode ser?

-A conversa não te está a agradar, isso sim, e estás a tentar correr comigo, mas desengana-te, pois não te verás livre de mim. Estarei sempre a teu lado, ou melhor, dentro de ti, mesmo que isso te desagrade, e já sabes que podes falar comigo sempre que quiseres.

-Quer dizer que não tens mais nada que fazer? Não tens mais pessoas para guardar?

-Dispenso a ironia, mas vou-te responder. Não, não tenho mais pessoas para guardar, tu ocupas-me o tempo todo, dia e noite, e olha que me dás imenso trabalho
.. 
-Dia e noite? Então não dormes?

-Não, não durmo.

-Nem quando eu estou a dormir?

-Quando estás a dormir eu estou a zelar pelo teu sono.

-Estás com medo que eu faça asneiras quando estou a dormir e tens medo que o teu patrão te despeça.

-Ouve lá, ó engraçadinho, eu não tenho patrão, tenho um Senhor que eu amo, e que me ama como te ama a ti também.

-Desculpa, não te quis ofender.

-Não ofendeste, mas não é próprio brincar com as coisas sagradas. Nunca ouviste dizer que graças a Deus, todas, graças com Deus, nenhumas?

-Tens razão, fui um pouco inconveniente.

-Foste de facto MUITO inconveniente.

-Já pedi desculpa.

-Tens que pedir desculpa é ao Senhor e não a mim. Eu só tenho que te aconselhar a respeitá-LO, e a pedir-lhe perdão quando erras.

-Quer dizer que te vou ter sempre ”à perna”?

-À perna, aos braços, ao corpo todo. Vais ter que me ouvir sempre que estejas prestes a fazer asneira.
-Bem, para terminar a conversa, afinal sempre existes?

-Pensei que já não tinhas dúvidas. Estás estás aqui à conversa comigo há um bom bocado, e ainda me fazes uma pergunta dessas?

-Pois é. E quando podemos conversar outra vez?

-Sempre que quiseres, já te disse, mas se não quiseres conversar basta que me escutes. Prometes?

- Prometo que vou tentar.

-Já é um começo. Agora dorme que eu fico aqui contigo, mas não ressones muito alto está bem?
.
- Apanhei-te. Afinal sempre dormes.

-Não, mas rezo. Boa noite, tem um sono tranquilo na paz de Deus.



Guilherme Duarte

(Texto publicado no jornal Cruz Alta)

OS ZOMBIES



Acontece que há situações nas nossas vidas em que parece que o mudo vai desabar sobre as nossas cabeças. Estes momentos difíceis, muitas vezes dramáticos outras até desesperados são encarados de maneiras diferentes por cada pessoa que os vive. Há quem não se conforme e lute corajosamente para vencer as dificuldades mas há quem, pelo contrário se agacha e encolhe refugiando-se num dos cantinhos das suas casas, muito quietos, calados e temerosos à espera que o que nos parece inevitável aconteça. Entretanto alheiam-se de tudo aquilo que gostavam fazer e que os ajudava a preencher uma parte das suas vidas. Deixam-se derrotar sem reagir nem lutar, desistem do futuro e quantas vezes não desistem mesmo de viver. Num ápice, tudo para eles deixou de fazer sentido. Sofrem e fazem sofrer quem os rodeia. Ficam surdos aos os incitamentos e conselhos para reagir. Tudo deixou de fazer sentido optam por passar a viver na penumbra de uma sala, com os olhos semicerrados, estores corridos e luzes apagadas. Optámos por viver na escuridão. Afinal o mundo não desabou ainda sobre nós e pode até ser que não mesmo ou que caia tão depressa como tememos. É então que a depressão nos invade, nos tolhe e nos transforma em algo parecido com essas figuras fantásticas e irreais a que chamamos zombies, os mortos-vivos de acordo com o nos contam a suas histórias. Neste caso há apenas uma pequena, (ou enorme), diferença. O zombies em que se transformaram tomaram conta de nós mas não nos transformam em mortos-vivos mas sim em vivos-mortos que neste caso, infelizmente são bem reais.

Tenho a noção de que este texto que partilho com os nossos leitores neste número do nosso jornal é um texto sombrio, derrotista e pessimista mas não foi escrito por acaso nem pelo prazer de tentar deprimir ninguém, mas numa rubrica como esta em que escrevo ao correr da pena, foi o que me saiu e não me saiu assim por acaso mas porque foi o único tema que consegui abordar por estar a viver um momento semelhante. Há algumas semanas atrás eu nem este texto conseguiria escrever. Graças a Deus, levantei-me lentamente, abandonei o cantinho onde me refugiara, abri os estores, acendi luzes e longe ainda da recuperação total já consigo conversar sobre o assunto e reconheço o enorme erro que cometi. Não estou a recuperar o gosto pela vida, sozinho. Ninguém o consegue sem ajuda e a mim essa ajuda não tem faltado. Agora já consigo ver de novo o sol, um sol ainda pálido, digamos que um sol de inverno.

Não publico este texto para suscitar compaixão a quem quer que seja, mas porque a minha reacção perante a adversidade que me atingiu foi completamente errada. Não soube ser corajoso e comportei-me até como um cobarde. Fiquei agora a saber, se algumas dúvidas eu tivesse, que não fui talhado para herói. Que pretendo eu com a publicação deste texto sombrio no nosso jornal? Apenas que devemos enfrentar com coragem, determinação e muita luta, os momentos difíceis das nossas vidas. Nem sempre quando o mundo parece desabar sobre nós isso vai acontecer. Não nos deixemos transformar em zombies. Eu deixei e não gostei nada da experiência.  

Guilherme Duarte

( Texto publicado no jornal Cruz Alta)


VINTE E CINCO ANOS DEPOIS

                     

A veneranda imagem de Nossa Senhora do Cabo Espichel está de regresso a Sintra, desta vez à paróquia de S. Pedro de Penaferrim de onde partiu há vinte cinco anos atrás. Estas visitas da imagem peregrina da Senhora do Cabo constituem sempre momentos de enorme emoção e de especiais manifestações de Fé e amor à Virgem Maria. Não se trata de um regresso de Nossa Senhora a Sintra como é habitual dizer-se, porque Nossa Senhora nunca de cá saiu. Ela está, e esteve sempre presente a nosso lado para nos proteger e guiar, estendendo-nos a sua mão para nos conduzir com segurança pelo caminho do bem que nos levará até junto de seu Filho Jesus. Nossa Senhora nunca nos abandonou e sempre falou connosco para incentivar a nossa Fé e amor a Deus e para nos alertar quando nos desviamos do caminho certo. O problema foi, e continua a ser, a nossa surdez para ouvir a sua voz e a nossa distracção para detectarmos e entendermos os seus sinais. Embrenhados que estamos nos nossos afazeres, mais atentos a solicitações que nos parecem mais apetecíveis e mais fáceis de seguir, encontramos tempo para tudo menos para ouvir e conversar diariamente durante alguns minutos com Nossa Senhora. Mantemo-nos surdos à voz de Maria e ignoramo-La até que a vida nos pregue uma partida que nos leve a correr a lançarmo-nos nos seus braços implorando a sua ajuda. Com a generosidade própria da Mãe de Deus, Nossa Senhora nunca nos vira as costas e acolhe-nos com amor nesses momentos de aflição. Nossa Senhora, é a nossa Mãe do Céu e como uma boa mãe que é ignora a nossa ingratidão e não desiste nunca de nós. Somos nós que tantas vezes desistimos Dela. Estas visitas da imagem de Nossa Senhora do Cabo às diversas Freguesias do Círio Saloio, tal como a infinidade de festejos que se realizam por esse país fora em honra da Santíssima Virgem, sobre as mais diversas invocações, têm como finalidade maior aproximar-nos da nossa Mãe do Céu, incentivar-nos a dispensar algum do nosso tempo para a ouvir e conversar com Ela e para a venerar e amar como Ela merece.

É neste contexto que devemos encarar e festejar a visita da imagem peregrina de Nossa Senhora do Cabo Espichel a S. Pedro de Penaferrim. Que a sua presença entre nós nos aproxime ainda mais de Nossa Senhora e que a sua estadia durante o ano em que permanecerá entre nós contribua para que nos tornemos melhores pessoas e cristãos mais autênticos. As dificuldades que o país atravessa não permitem que os festejos profanos atinjam o brilho e a grandiosidade de outrora mas não há crise económica nenhuma que impeça que as cerimónias religiosas que estão programadas se transformem em imponentes manifestações de Fé e de amor a Deus e à Santíssima Virgem. Decerto que daqui a um ano, quando a imagem veneranda de Nossa Senhora do Cabo rumar a outras paragens, deixará atrás de si uma Sintra mais devota e mais solidária. Uma Sintra ainda melhor.


Guilherme Duarte

(Texto publicado no jornal Cruz Alta em Setº 2014)

CRISE OU EMBUSTE


Estou cada vez mais convencido que a crise que atingiu Portugal e que se vai alastrando rapidamente a outros países da zona Euro não é só resultado da incompetência, da irresponsabilidade e da corrupção dos políticos inaptos e incompetentes que têm governado o país nos últimos 15 anos mas há fortes suspeitas, (para muitos serão mesmo certezas), de ter sido também deliberadamente  provocada pela alta finança internacional e pelo grande capital, com a intenção de atacar as políticas sociais para beneficiar interesses privados e os direitos e regalias dos trabalhadores para fazer cair a pique o custo do trabalho e reduzir drasticamente o número de trabalhadores, facilitar os despedimentos e sobrecarregar e explorar os trabalhadores que mantêm o seu posto de trabalho. Esta situação em princípio parece ser altamente benéfica para o empresariado que vê substancialmente reduzidos os custos com a mão-de-obra e o consequente aumento dos lucros. Os políticos esfregaram as mãos de contentes pois viram na crise a oportunidade de reduzirem os custos da acção social do Estado, cortando apoios e subsídios, reduzindo as despesas com o Serviço Nacional de Saúde à custa da qualidade e quantidade de serviços prestados. Escolheram um bode expiatório, ou dois, e assestaram as armas contra a função pública, contra os reformados e pensionistas espoliando-os de verbas a que têm direito porque descontaram para elas durante toda uma vida de trabalho apesar do Primeiro-Ministro deste país ter vindo a público que os reformados estão a receber verbas a que não têm direito porque não descontaram para elas. Sua excelência estaria certamente a referir-se aos políticos e às subvenções e reformas milionárias que continua a conceder generosamente, a fazer fé nas notícias que frequentemente são veiculadas pela comunicação social e que nunca foram desmentidas. Mas voltando à função pública. Alega-se, e acredito que possa ser verdade, que existam funcionários públicos em número muito superior aos necessários mas ninguém vem dizer claramente porquê. Eles não dizem, mas digo eu. Há funcionários públicos a mais porque após o golpe de 25 de Abril de 1974 todos os partidos que têm passado pelos diversos governos, Partido Comunista incluído, nos tempos loucos do PREC), usaram a função pública para encaixar milhares de prosélitos seus. Li em tempos que em 1974 havia cerca de 350.000 funcionários públicos. Hoje existem, ao que se diz, cerca de 700.000. Serão os trabalhadores da função pública culpados desta situação? Não. Os culpados foram os governantes que criaram esta situação escandalosa que sempre encararam as finanças públicas como uma fonte inesgotável. O resultado está à vista. É tremendamente injusto estar a fazer guerra a quem não contribuiu em nada para a falência deste país quando os verdadeiros culpados não sofrem cortes nos seus vencimentos chorudos nem nas escandalosas mordomias de que usufruem numa atitude que só podemos interpretar como uma intolerável provocação a todo um povo que está a ser espoliado. Temos actualmente um milhão de desempregados mas esse drama parece não tirar o sono aos nossos políticos estejam eles no governo ou na oposição.

Há poucas semanas uma das minhas netas foi com a escola fazer uma visita de estudo à Assembleia da República. (os alunos dessa escola devem ter-se portado muito mal para serem castigados com tamanha severidade). Ao fim do dia, depois de ter regressado a casa perguntei-lhe o que tinha visto e o que aprendeu naquela visita. A resposta foi pronta e foi assim “- Avô os deputados passaram o tempo a falar de crise mas cá fora, estacionados, só víamos um fartão de carros de luxo, Mercedes, BMW.s e Audis todos eles de gama alta. Reparei também que haviam imensos lugares vagos nas bancadas dos partidos e que enquanto um deputado discursava, alguns deles andava no Facebook. São estes os exemplos edificantes que os nossos deputados que vivem à custa do dinheiro dos portugueses dão aos nossos jovens que vão visitar o Parlamento que devia ser a casa da democracia, da dignidade, de seriedade e do serviço a favor do povo e da nação.

Enquanto o governo desumano sobrecarrega os funcionários públicos e os reformados com cortes de ordenado e com taxas e mais taxas, e os portugueses em geral com aumentos brutais de impostos estes senhores continuam, sem o mínimo pudor, a viver à grande e à francesa e a esbanjar os dinheiros públicos em luxos totalmente indecorosos numa nação completamente falida.


Guilherme Duarte

(Texto que publiquei no jornal Cruz Alta em Julho de 2014)