“Andava
um dia
Em pequenino
Nos arredores de Nazaré
Em companhia de S. José
O Deus
Menino
O Bom Jesus/…..”.
É assim que começa um poema
que decerto nos faz regressar, com uma pontinha de saudade, aos longínquos
tempos da nossa meninice. Este foi, para mim e para todas as pessoas da minha
geração o primeiro contacto que tivemos com a poesia. É com este poema
carregado de ternura que João de Deus termina a inesquecível Cartilha Maternal
através da qual nos ensinou as primeiras letras, a juntá-las e a conseguir soletrá-las.
Em suma, foi nessa cartilha, diria que mágica, que aprendemos a ler. João de
Deus, no final da cartilha e sabendo-nos já aptos para a leitura, ainda que
algo incipiente naquela idade, decidiu encantar-nos com um poema de uma ternura,
uma simplicidade e uma ingenuidade tão grandes que o tornam verdadeiramente cativante;
ao ponto de ser impossível esquecê-lo ao longo de toda a nossa vida. O ”Hino
de Amor”, assim se intitula o poema, e a maravilhosa “Balada da Neve” de
Augusto Gil que o livro da 2ª classe nos oferece, despertaram em muitos de nós,
os mais velhos, o gosto pela poesia. Não é porém de poesia que pretendo falar
este mês. Talvez numa próxima ocasião.
Esta referência ao poema de João de Deus veio-me à lembrança a propósito
do mês de Maio, para mim o mais bonito mês do ano. Maio, o mês de Maria, o mês
da mãe e também o mês das flores, dos aromas inebriantes e das melodias
irreverentes do alegre trinar da passarada.
Terá sido por acaso que
Nossa Senhora escolheu o mês de Maio para aparecer aos pastorinhos na Cova da
Iria, num descampado, nessa altura certamente coberto por um manto
multicolorido de flores campestres a rodear as azinheiras? Nossa Senhora fez a
sua primeira aparição no mês de Maio e sinto que não fez por acaso. È
enternecedora e muito bonita a associação da nossa Mãe do Céu à nossa mãe
terrena num cenário florido, policromo e odoroso. Será possível imaginar algo
mais encantador? Para mim, não. Já nos tempos de seminarista no mês de Maio
enfeitava a minha mesa de estudo com uma pequena imagem de Nossa Senhora, uma
fotografia da minha mãe, que nasceu no mês de Maio, e um pequeno ramo de flores
campestres que colhia durante os passeios semanais das quintas-feiras. Já nessa
altura, no início da minha adolescência Maio era, e é ainda hoje, um mês que me
encanta
.
Mas que terá tudo isto a ver
com o poema de João de Deus que referi no início desta conversa? Vou tentar
explicar. Estamos no mês da Maria, o mês de Nossa Senhora, a Mãe extremosa de
Jesus e esposa dedicada de S. José. Celebrando a Virgem temos que recordar
também Jesus, não só O Jesus, Filho de Deus durante a sua vida pública mas
também O Jesus que se fez homem, que foi criança e que como qualquer outra criança
cresceu no seio de uma família que o amava, que o acarinhava, que brincava e
passeava com Ele. Não podemos celebrar Maria sem celebrar também a Sagrada
Família. João de Deus descreve no seu poema Jesus ainda menino a passear pelos
campos na companhia de S. José. O poeta dá-nos o mote, cabe-nos a nós completar
o quadro. Quanto a mim vejo Jesus a brincar e a saltar pelo campo sob o olhar
atento e carinhoso de S. José, num intervalo do seu trabalho na carpintaria, enquanto
em casa Nossa Senhora prepara a refeição para a família. Bondoso e sensível Jesus
defende o rouxinol do ataque da serpente traiçoeira e a avezinha, grata pela ajuda
e protecção do Menino não mais deixou de agradecer e louvar o seu protector através
da melodia do seu canto maravilhoso.
Pouco mais de uma semana
após termos meditado na Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus e contemplado a
dor de Nossa Senhora ao pés da cruz a receber nos seus braços o corpo inerte do
seu amado Filho, vamos agora venerá-la como a Mãe amantíssima de um Deus feito
criança, uma criança alegre, obediente e generosa que passeia pelos campos de
Nazaré pela mão de São José, enquanto Maria anda atarefada na lida da casa.
Nossa Senhora há-de apreciar de certeza que a celebremos juntamente com o seu
Divino Filho e com S. José o seu santo esposo. Maio é o mês de Maria, o mês da
mãe e das flores mas é também o mês da Família Sagrada. Louvemo-La.
Guilherme Duarte
(Artigo publicado no número de Maio de 2014 no jornal Cruz Alta)