segunda-feira, 30 de junho de 2014

SETE PONTIFICADOS


          
De Pio XII ao Papa Francisco são já sete os Papas que conheci ao longo das sete décadas que levo de vida. Sete Papas, sete pontificados, sete estilos diferentes, sete personalidades distintas. Homens com origens, percursos e experiências de vida diferentes que os conduziram a um destino comum, a cadeira de S. Pedro. Não resisti à tentação de tentar estabelecer uma comparação entre todos estes Papas e os seus pontificados. Não é um exercício fácil de fazer pelo menos para quem, como eu, não possui os conhecimentos suficientes e necessários para o conseguir. O mediatismo que os rodeou não foi igual para todos eles, o mundo tem mudado de forma alucinante nestas últimas décadas e os problemas com que eles se viram confrontados tiveram certamente contornos muito diferentes. Resultado? Desisti de fazer comparações que não terão qualquer cabimento. A verdade é que todos eles, com a ajuda do Espírito Santo, cumpriram a missão que lhes foi confiada com total dedicação, competência, humildade e sentido de serviço a Deus e ao mundo e fizeram-no com uma Fé inabalável procurando com o seu exemplo dizer aos crentes, e porque não dizê-lo, também aos não crentes, que a santidade não é exclusivo de alguns eleitos por Deus mas está ao alcance de todos nós. Assim nós o queiramos. É fácil vivermos em santidade? Não, não é, mas também não é impossível. Os exemplos que a Igreja nos oferece são muitos e elucidativos.

Estive tentado a escrever um pouco sobre a marca que cada um destes sucessores de S. Pedro deixaram na minha vida mas o espaço de que disponho é limitado e insuficiente para expressar todas as emoções que eles me transmitiram. Optei então por destacar apenas quatro deles, aqueles que mais mexeram comigo e certamente com a maioria dos cristãos, S. João XXIII, João Paulo I, S. João Paulo II e o actual Papa Francisco. Gostaria numa próxima oportunidade de falar um pouco sobre Pio XII, Paulo VI e Bento XVI pela importância que também eles tiveram na vida da nossa Igreja, mas por agora prefiro destacar a imagem de bondade que João XXIII nos transmitia e a decisão firme que tomou de aproximar a Igreja dos fiéis ao convocar o Concílio Vaticano II. João Paulo I no seu curto pontificado de um mês conquistou o mundo com a sua humildade e o seu sorriso, o sorriso de Deus como consta do título de um filme italiano realizado sobre a sua vida. Sucedeu-lhe João Paulo II que trouxe à Igreja a força da personalidade de um homem temperado pelo flagelo da guerra, pela crueldade nazi e pela luta contra a ditadura comunista. Se João XXIII aproximou os fiéis à Igreja, João Paulo II levou a Igreja até aos fiéis quando se deslocou aos quatro cantos do mundo com a missão de levar a mensagem de Cristo a todos os lugares por mais recônditos que fossem. Cativou a juventude e foi o principal responsável pela queda do comunismo na Europa, pelo derrube do muro de Berlim e o fim da União Soviética. Soube usar como nenhum outro a comunicação social para difundir a palavra missionária. O seu poder e a sua força inabalável valeram-lhe um atentado congeminado pelos dirigentes comunistas do Leste europeu, atentado esse que num dia 13 de Maio lhe custaria a vida se não fosse a intervenção miraculosa de Nossa Senhora que ele tanto amava e a quem entregou a sua vida ao ponto de adoptar como lema do seu pontificado, “Sou todo Teu, Maria”. Tinha razão Karol Wojtyla quando pediu aos fiéis de todo o mundo para não terem medo. Houve porém alguém que começou a ter medo nesse preciso momento, os algozes comunistas que oprimiam meia Europa. E o futuro demonstrou que tinham toda a razão para o ter.

Actualmente a cadeira Petrina está ocupada por um homem que veio de longe, do fim do mundo como ele disse quando acabado de ser eleito pelo conclave se dirigiu aos fiéis que enchiam a Praça de S. Pedro. É cedo para fazer um balanço do pontificado deste homem simples, humilde que tem como prioridade lutar pelos desfavorecidos da vida e fazer regressar a Igreja à sua pureza e simplicidade original. Francisco quer uma Igreja menos pomposa, mais modesta na forma, mas mais ambiciosa nos objectivos. Francisco quer uma Igreja com uma maior preocupação social mais de acordo com a imagem de Jesus. Terá que ultrapassar muitos obstáculos, terá que superar o conservadorismo de muitos para implementar todas as reformas que ele pensa serem necessárias e urgentes para renovar a Igreja de Cristo aproximando-a mais dos ensinamentos do Mestre. Será uma tarefa hercúlea mas confiamos que Deus não lhe faltará com a sua ajuda para levar a sua missão a bom termo.

Termino com uma conclusão muito pessoal. S. João XXIII mudou a Igreja, S. João Paulo II mudou o mundo e o Papa Francisco irá certamente mudar o homem. De permeio João Paulo I encantou-nos a todos com o seu sorriso e não teve tempo para mais.


Guilherme Duarte.

(Artigo publicado no número de Junho de 2014 do jornal Cruz Alta)