De Pio XII ao Papa Francisco
são já sete os Papas que conheci ao longo das sete décadas que levo de vida.
Sete Papas, sete pontificados, sete estilos diferentes, sete personalidades distintas.
Homens com origens, percursos e experiências de vida diferentes que os
conduziram a um destino comum, a cadeira de S. Pedro. Não resisti à tentação de
tentar estabelecer uma comparação entre todos estes Papas e os seus
pontificados. Não é um exercício fácil de fazer pelo menos para quem, como eu, não
possui os conhecimentos suficientes e necessários para o conseguir. O
mediatismo que os rodeou não foi igual para todos eles, o mundo tem mudado de
forma alucinante nestas últimas décadas e os problemas com que eles se viram
confrontados tiveram certamente contornos muito diferentes. Resultado? Desisti
de fazer comparações que não terão qualquer cabimento. A verdade é que todos
eles, com a ajuda do Espírito Santo, cumpriram a missão que lhes foi confiada
com total dedicação, competência, humildade e sentido de serviço a Deus e ao
mundo e fizeram-no com uma Fé inabalável procurando com o seu exemplo dizer aos
crentes, e porque não dizê-lo, também aos não crentes, que a santidade não é
exclusivo de alguns eleitos por Deus mas está ao alcance de todos nós. Assim
nós o queiramos. É fácil vivermos em santidade? Não, não é, mas também não é
impossível. Os exemplos que a Igreja nos oferece são muitos e elucidativos.
Estive tentado a escrever um
pouco sobre a marca que cada um destes sucessores de S. Pedro deixaram na minha
vida mas o espaço de que disponho é limitado e insuficiente para expressar
todas as emoções que eles me transmitiram. Optei então por destacar apenas
quatro deles, aqueles que mais mexeram comigo e certamente com a maioria dos
cristãos, S. João XXIII, João Paulo I, S. João Paulo II e o actual Papa
Francisco. Gostaria numa próxima oportunidade de falar um pouco sobre Pio XII,
Paulo VI e Bento XVI pela importância que também eles tiveram na vida da nossa
Igreja, mas por agora prefiro destacar a imagem de bondade que João XXIII nos
transmitia e a decisão firme que tomou de aproximar a Igreja dos fiéis ao
convocar o Concílio Vaticano II. João Paulo I no seu curto pontificado de um mês
conquistou o mundo com a sua humildade e o seu sorriso, o sorriso de Deus como
consta do título de um filme italiano realizado sobre a sua vida. Sucedeu-lhe João
Paulo II que trouxe à Igreja a força da personalidade de um homem temperado pelo
flagelo da guerra, pela crueldade nazi e pela luta contra a ditadura comunista.
Se João XXIII aproximou os fiéis à Igreja, João Paulo II levou a Igreja até aos
fiéis quando se deslocou aos quatro cantos do mundo com a missão de levar a
mensagem de Cristo a todos os lugares por mais recônditos que fossem. Cativou a
juventude e foi o principal responsável pela queda do comunismo na Europa, pelo
derrube do muro de Berlim e o fim da União Soviética. Soube usar como nenhum
outro a comunicação social para difundir a palavra missionária. O seu poder e a
sua força inabalável valeram-lhe um atentado congeminado pelos dirigentes
comunistas do Leste europeu, atentado esse que num dia 13 de Maio lhe custaria
a vida se não fosse a intervenção miraculosa de Nossa Senhora que ele tanto
amava e a quem entregou a sua vida ao ponto de adoptar como lema do seu
pontificado, “Sou todo Teu, Maria”. Tinha razão Karol Wojtyla quando pediu aos
fiéis de todo o mundo para não terem medo. Houve porém alguém que começou a ter
medo nesse preciso momento, os algozes comunistas que oprimiam meia Europa. E o
futuro demonstrou que tinham toda a razão para o ter.
Actualmente a cadeira
Petrina está ocupada por um homem que veio de longe, do fim do mundo como ele
disse quando acabado de ser eleito pelo conclave se dirigiu aos fiéis que
enchiam a Praça de S. Pedro. É cedo para fazer um balanço do pontificado deste
homem simples, humilde que tem como prioridade lutar pelos desfavorecidos da
vida e fazer regressar a Igreja à sua pureza e simplicidade original. Francisco
quer uma Igreja menos pomposa, mais modesta na forma, mas mais ambiciosa nos
objectivos. Francisco quer uma Igreja com uma maior preocupação social mais de
acordo com a imagem de Jesus. Terá que ultrapassar muitos obstáculos, terá que
superar o conservadorismo de muitos para implementar todas as reformas que ele
pensa serem necessárias e urgentes para renovar a Igreja de Cristo
aproximando-a mais dos ensinamentos do Mestre. Será uma tarefa hercúlea mas
confiamos que Deus não lhe faltará com a sua ajuda para levar a sua missão a
bom termo.
Termino com uma conclusão
muito pessoal. S. João XXIII mudou a Igreja, S. João Paulo II mudou o mundo e o
Papa Francisco irá certamente mudar o homem. De permeio João Paulo I
encantou-nos a todos com o seu sorriso e não teve tempo para mais.
Guilherme Duarte.
(Artigo publicado no número de Junho de 2014 do jornal Cruz Alta)